terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Sorria! Você está na Bahia.


    Ela encontrou a cidade bastante movimentada devido à proximidade do Carnaval. Caminhando pela orla marítima sentiu o quanto o evento era importante como oportunidade de emprego (ainda que temporário) e renda para os habitantes mais humildes do lugar. E percebeu que eles eram muitos…
    Um batalhão erguia as estruturas dos camarotes a todo vapor. Outras pessoas já trabalhavam no período de pré-carnaval vendendo bebidas ou recolhendo latinhas para reciclagem após os eventos. Cada um desempenhando o papel que lhe cabia no espetáculo.
      Ansiosa para conhecer os principais pontos turísticos de Salvador, ela saiu com a família atenta a cada ínfimo detalhe do percurso pelo centro histórico da capital baiana. Nas igrejas de arquitetura rebuscada sentiu de perto o sincretismo religioso na fala do guia, que apresentava as imagens dos santos católicos e seus orixás correspondentes.
      Na visita ao mercado, o sagrado e o profano também conversavam harmonicamente nas prateleiras, representados pelos mais diversos artigos em exposição. Atraída pelo som de uma música, ela dirigiu-se para a área externa e avistou uma roda de capoeira. A agilidade e precisão dos movimentos a impressionou tanto quanto o chapéu deixado ao chão para receber uns trocados da plateia. Lamentou que uma apresentação cultural tão rica não recebesse o devido valor, e prosseguiu.
     Na praça, quase ao meio dia, encontrou baianas que se ofereciam para fotos em vestidos volumosos sob um sol escaldante. Olhou fascinada para a brancura dos trajes, a riqueza das rendas e o colorido dos adornos, e também julgou que estavam fora de lugar, sem a atenção mais que merecida.
       Após o almoço, a visitação aos museus preencheu a tarde. Ficou feliz em ver as filhas curiosas diante dos objetos e atentas às explicações dos guias. Gostaria muito que sua cidade natal oferecesse mais espaços como aqueles e se preocupasse em restaurar seu patrimônio como parecia acontecer por lá.
      A desinibição e espontaneidade das pessoas também saltava aos olhos. A atmosfera de alegria e liberdade composta pelo batuque dos tambores e os corpos pintados dos músicos do Olodum enfeitiçava e convidava a seguir dançando sem parar…
      O sotaque carregado que ganhava charme na voz das mulatas, parecia debochado e até grosseiro na boca dos homens. Casais homoafetivos transitavam despreocupadamente sem qualquer constrangimento ou medo de reprovação alheia. Foi bom para ela perceber-se em minoria. Seu tom de pele, sua religião e suas escolhas de repente ficaram pequenas, perdidas naquela diversidade cultural e pluralidade de opiniões.
      Viajar sempre a revirava pelo avesso. O contato com outras realidades mexia com os pensamentos e sentimentos dela de uma forma avassaladora. Abastecia a cabeça de novas ideias, refletia e transformava seus posicionamentos diante da vida.
     Na morosidade do engarrafamento rumo ao aeroporto, ia despedindo-se de Salvador cheia de questionamentos… Afinal de contas, quem imaginaria encontrar nas placas de sinalização da cidade a indicação de um terreiro de Umbanda? E por que não se todos os outros locais de culto estão indicados? Quem escolheria comer um bolinho de feijão frito e apimentado na praia? E que problema há nisso?
      De repente, o carro para no sinal e ela lê no muro de uma igreja: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. E, mais abaixo, uma pichação que afirmava: “Eu acredito nos Beatles”. Uma síntese mais que perfeita daquele lugar tão repleto de contrastes…

Na Bahia, ia, iá, tudo é motivo de alegria, iá, iá, É carnaval, é festa todo dia, iá, iá Espere um pouco tô chegando já...”

Festa na Bahia, Chiclete com Banana

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