quinta-feira, 27 de abril de 2017

Casamento sem cerimônia

      Eles escolheram o mês dos namorados para celebrar o casamento, como se quisessem eternizar essa condição.
   A casa que ocuparam, novinha em folha, mas incompleta quanto ao mobiliário, correspondia bem com a nova fase daquele amor que ainda tinha tanto a alcançar.
      Foi um início difícil, muito mais pela despedida de pessoas queridas que pelos ajustes diários e tão necessários na vida a dois. Dois meses após o matrimônio, ela perdeu a avó, e dias antes das suas bodas de papel, perdeu o pai, marcando aquela data e o seu coração para sempre. E o tempo seguiu implacável...
      Eles viajaram, mudaram de emprego e investiram em formação profissional. Até que no segundo ano de casados, constataram que a casa estava ampla demais, e decidiram acrescentar ao currículo o grau de pais.
    Deus enviou generosamente uma criança linda e saudável, que apertou ainda mais aquele laço de amor. E eles decolaram juntos na viagem de criação da filha com o entusiasmo de quem se depara com as novidades de um lugar totalmente maravilhoso e inexplorado.
      No meio do percurso, logo a turbulência começou a aparecer...O arsenal de apetrechos e sentimentos que acompanham a chegada de um bebê desorganizou a casa, ocupou o carro e roubou o vigor do relacionamento.
   Os dois brigaram muito, mas teimaram e não deram a permissão requerida pelos desentendimentos para o fim da união. Amando, aprenderam empiricamente que a euforia infantil dos primeiros passos poderia ceder lugar a um caminhar menos impulsivo e mais consciente e seguro. Foi quando finalmente deixaram de engatinhar e aprenderam a andar!
    Lá pelas bodas de açúcar, a família voltou a aumentar. Outra menina, bem pequenininha, chegou apressada, antes da hora, sorrindo do desespero dos pais assustados pela surpresa da prematuridade. Veio de modo solícito atender a urgência divina em completar aquela família, e carinhosamente preencheu todos os espaços ainda vazios naquele lar.
   Hoje, marido e mulher estão empenhados no compromisso de manter um enlace maleável e flexível, protegido da corrosão e ferrugem dos anos passados, em consonância com as bodas de estanho e zinco que se aproximam...
      "Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz 
        Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz."
O meu amor, Chico Buarque

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