Parte
I
Era
uma vez, em um reino muito distante, uma praia...
Lá, as pessoas estendiam toalhas na areia e
conversavam alegres e despreocupadamente. Crianças catavam conchinhas, erguiam
castelos imaginários, jogavam bola ou se ocupavam em “enterrar vivo” aquele tio
maluco que toda família que se preza tem.
Famílias inteiras reunidas com total tranquilidade
ao longo da orla marítima. Crianças de colo conhecendo o mar pela primeira vez,
idosos matando a saudade de outros tempos, e turistas encantados com o
espetáculo natural apresentado por tão linda cidade litorânea.
Enquanto isso, alguns ambulantes ofereciam
bronzeadores criados com fórmulas caseiras super eficazes, e outros tantos, carregavam
caixas de isopor com picolés deliciosos, de procedência completamente
desconhecida.
A água do mar não era poluída, o que
tornava o banho de mar a principal atração. Quando a fome batia, sempre era
possível recorrer a uma frutinha ou a um suco trazido de casa, que adiavam um
pouco mais o fim do passeio.
E quando ficava realmente muito tarde, todo
mundo saía pra completar a manhã do domingo de sol em uma churrascaria próxima.
Chegando em casa, era hora de um bom banho,
pra fazer o cabelo retornar ao seu estado natural, e deixar a água do chuveiro
escorrer pelo ralo aquele monte de areia que permaneceu grudado entre os dedos
dos pés.
Depois disso, o corpo quente e os olhos vermelhos,
embora incômodos, chamavam rapidinho o sono, com o balançar da rede, sem hora
pra acordar...
Parte
II
Era uma vez, em um reino muito distante,
uma praia...
Lá, as pessoas eram disputadas como
clientes por funcionários de inúmeras barracas, e podiam escolher acomodar suas
famílias nas áreas: coberta, palhoça ou de guarda-sol.
As crianças tinham diversão garantida em
parques aquáticos super estruturados e atraentes, e os adultos, entretenimentos
variados, de massagens a shows de
música ao vivo.
Não era possível manter conversas longas,
uma vez que os ambulantes abordavam as pessoas a cada cinco minutos com uma
infinidade de artigos, dos mais simples, como produtos regionais, até os mais
sofisticados, como equipamentos eletrônicos.
Sempre correndo apressadamente, garçons
portavam cardápios que impressionavam pela variedade e alto custo dos produtos.
A praticidade era tamanha, que permitia permanecer na praia comendo e bebendo,
de maneira tão farta por todo o dia, quanto em um bom restaurante da cidade.
A água do mar, imprópria para o banho, talvez
justificasse o desfile de trajes e acessórios esportivos caros e elegantes que
as pessoas exibiam, como em um desfile de moda. Talvez estivessem certos de que
não sofreriam avaria alguma...
E todos voltavam para casa, limpos e secos,
com a escova impecável. Sem gosto nem cheirinho de mar, mas com a câmera do
celular cheia de selfies incríveis
para postar em sequência nas redes sociais.
“Quando estiver no dia triste /Basta o
sorriso dela pra você ficar feliz/ Quando se sentir realizado /E dizer que
encontrou o bem que você sempre quis...”
A Rosa e o Beija-Flor, Matheus e Kauan
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