Passou na padaria no retorno do
trabalho disposta apenas a tomar uma sopa e encerrar o dia. Encontrou o
ambiente todo decorado com a temática junina e a oferta de comidas típicas em
grandes panelas de barro expostas para self-service.
Foi o bastante para relembrar os festejos de São João de sua infância...
Lembrou-se dos ensaios para quadrilha
no pátio da escola, do constrangimento em dançar em par com um coleguinha pouco
conhecido, do barulho das bandeirinhas de papel sacudidas pelo vento, e, é
claro, das músicas de Luiz que tocavam repetidas vezes e marcavam todos os
passos.
Nesse período, a mãe seguia o exemplo
de várias mulheres do bairro e fazia deliciosas cocadas para venda nas
barraquinhas da Igreja, como forma de arrecadar fundos para uma reforma ou
campanha católica. E de todas as festas juninas da cidade, talvez pela habilidade
para cozinhar e boa ação daquelas senhoras, nenhuma tinha pratos típicos tão
saborosos quanto aos das quermesses.
Acabou rindo sozinha na mesa da padaria,
lembrando o seu esforço nas brincadeiras de pescaria, jogo de argolas, boca de
palhaço, derruba latas, e outras mais, só para ganhar o melhor dos presentes:
uma caixa de estalinhos! E seguir feliz fazendo barulho e assustando pessoas
distraídas nas filas das barraquinhas de comidas típicas...
Começou a tocar uma música ambiente e ela
recordou de uma festa junina na companhia do pai. Acostumada a festas animadas com
caixas de som, ficou fascinada ao ver e ouvir um trio com sanfona, zabumba e
triângulo. O pai começou a contar histórias das festas no interior, de um tal “correio
elegante”, onde os “cabras” mais atrevidos enviavam bilhetes para moças
comprometidas, e em como ele ajudava nisso, sendo culpado pela união de muito
casal que estava trocado, vivendo com a pessoa errada e nem percebia.
Como sua mãe rejeitou a dança nesse dia, o pai saiu dançando com ela, que ainda mal alcançava seu ombro. Lembrou que sentia
as trancinhas batendo no rosto cada vez que rodopiava, e que o calor do vestidão rodado de chita não incomodou em nada aquela alegria tão grande.
Pararam somente para acompanhar o
bingo. Cada um com seu palitinho de dente, furando a cartela e torcendo pra
ganhar o cofrinho cheio de dinheiro que rodou a festa inteira. Não ganharam,
mas o pai disse que ela era campeã porque marcou mais números que ele, e ela saiu
feliz e vitoriosa por isso, na sua inocência infantil.
Deixou a padaria e no caminho para casa ainda surgiram
muitas outras lembranças... Pela primeira vez considerou bonito o pai despedir-se deste mundo em um Dia de Santo Antônio. Pareceu bastante justo que um amante do toque da sanfona e da simplicidade da vida sertaneja partisse em mês junino...
"A fogueira tá queimando/ em homenagem a São João/ O forró já começou/ Vamos gente, rapa-pé nesse salão..." São João na Roça - Luiz Gonzaga
Você como sempre mim emociona que suas lindas lembrancas. Saudades.
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