tag:blogger.com,1999:blog-27493146080572547082024-02-19T02:51:05.857-08:00Notas Em RéAlgumas notas e músicas...notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.comBlogger37125tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-23801074027775434902022-12-06T11:04:00.001-08:002022-12-06T11:35:04.307-08:00A taça do mundo é nossa!<p style="text-align: justify;"> </p><p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"> Em qualquer outra situação, a transmissão de um jogo de futebol
pareceria enfadonha para ela. Porém, em tempos de Copa do Mundo, era
comum dar uma espiadinha na televisão entre os afazeres de casa ou
do trabalho. E perfeitamente compreensível o sorriso encoberto pela
máscara cirúrgica diante da Alemanha derrotada, ou sua torcida
velada contra a Argentina.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"> Observava intrigada como matérias jornalísticas, com previsões
supersticiosas, baseadas em resultados pregressos em campo, detinham
a atenção dos marmanjos que acreditavam em probabilidades absurdas
que davam mais uma vitória como certa. Repetimos o resultado de um
jogo de 2002. Seria bom presságio? A rainha Elizabeth morreu em ano
de Copa. Seria mau presságio?</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"> Francamente… Ela estava mais interessada no pulsar do coração
quando ouvia a mensagem de resistência e bravura de seu povo
declarada no hino nacional. Precisava da alegria gratuita dos gritos
de gol, da família reunida na sala, da euforia dos pequenos,
estreantes torcedores, e das lembranças de outros campeonatos dos
mais velhos.</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"> Queria a todo custo ter novas histórias de Copa do Mundo pra
contar aos futuros netos. Falar orgulhosa do favoritismo de um time
cinco vezes campeão, da trajetória dos meninos da periferia que
tornaram-se ídolos nacionais, e da tradição de vestir-se em
“amarelo-canário” e “verde-bandeira”.
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"> Entendida como superficial, para ela, a competição era momento
importante e necessário. Pois, antes vivenciar o tumulto e a
euforia, que a tristeza e o isolamento da doença, ou a mortal
rivalidade partidária.
</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"> Antes ainda, o expediente de trabalho reduzido, mesmo com a
correria do trânsito que antecedia aos jogos. E era nessa certeza, que transpunha, no caminho de todo dia, uma lombada emblemática,
pintada em verde e amarelo, para lembrar que em toda disputa, existem
altos e baixos, mas é preciso e possível seguir...</p>
<p align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="background-color: white; color: #4b4f58; font-family: Montserrat, sans-serif; font-size: 13.68px; text-align: start;">“</span><em style="background-color: white; box-sizing: inherit; color: #4b4f58; font-family: Montserrat, sans-serif; font-size: 13.68px; text-align: start;">Noventa milhões em ação / Pra frente, Brasil, do meu coração (…) De repente é aquela corrente pra frente / Parece que todo o Brasil deu a mão (…) Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil</em><span style="background-color: white; color: #4b4f58; font-family: Montserrat, sans-serif; font-size: 13.68px; text-align: start;">”</span>
</p>notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-23384877439789016422021-11-02T17:53:00.001-07:002021-11-03T12:44:06.557-07:00Morador de rua ou pessoa em abandono?<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não sabia precisar quando exatamente deparou-se
pela primeira vez com a figura daquele homem franzino, de olhar triste, que
assumia a posição de cócoras, e portava sempre consigo uma mochila surrada e
suja. Tratava-se de um paciente em situação de rua, que vivia embaixo de um
viaduto, e que procurou a unidade de saúde com quadro respiratório sugestivo de
tuberculose. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como enfermeira, mais uma vez, sentiu-se
chamada ao combate ao bacilo de Koch, o mesmo que há alguns anos roubou-lhe o
colo do avô materno, e resolveu enfrentar o desafio de acompanhar um paciente complexo,
que carregava o peso de sua invisibilidade legal e social. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Diante de um homem adoecido, sem
família, sem documentos, sem teto e sem dinheiro, ela precisou revisitar seus
próprios temores e conceitos para atendê-lo com dignidade, sem assumir uma mera
atitude de piedade e compaixão. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nos encontros periódicos com o
paciente, ela desconstruía a imagem de que morar na rua era sinônimo de
drogadição, vagabundagem e/ou alta periculosidade, descortinando pouco a pouco
a história de vida que aquele homem compartilhava com ela. Era como enxergar,
como dizia o contista, o fio escondido sob as miçangas, ser capaz de ver o que
ocultava a beleza do colar...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Foi julgada e questionada várias
vezes, na unidade de saúde e fora dela, sobre o seu real interesse em ajudar alguém
naquela situação de pobreza e vulnerabilidade extremas, mas não pensou em desistir.
Por acaso não é o caos do avesso que sustenta a beleza do bordado? <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E foi
assim, a cada conversa, que a enfermeira percebeu que rotular aquele homem como
incapaz de autogovernar-se, pautada no senso comum de que ele era iletrado e
sozinho no mundo, só agravava sua desvantagem social. E a vinculação entre eles
foi crescendo naturalmente, ficando a enfermeira responsável pela guarda de
todos os exames e receitas, a pedido do paciente, que, por sua vez, obedecia de
bom grado a todos os acordos firmados com ela. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sensível à necessidade de ofertar
afeto, escuta e acolhimento, a enfermeira acionou as colegas do hospital
especializado, que ficava no outro extremo da cidade, e encaminhou o paciente
para lá. Ele abraçou sua oportunidade, conseguindo, já na primeira tentativa,
vencer a distância, encontrar o local corretamente, e voltar para a unidade, com
medicações, prescrição e relatório médico na mão, fazendo a seu modo, sua própria
contra referência. Conseguiu ainda, assumir a posição de pé, sem o desconforto
respiratório inicial que o fazia permanecer de cócoras. Ainda que
simbolicamente, reergueu-se!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>De maneira surpreendente, mesmo em condições
de vida tão adversas, era o único paciente a cumprir todo o tratamento
prescrito de forma regular, resistindo ao preconceito e a rejeição social, contrariando
com louvor o rótulo de incapaz...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p><span jsname="YS01Ge" style="background-color: white; color: #202124; font-family: arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: justify;"><span jsname="YS01Ge">"Venha, o amor tem sempre a porta aberta/ E</span><span jsname="YS01Ge"> vem chegando a primavera/ </span><span jsname="YS01Ge">Nosso futuro recomeça/</span>Venha, que o que vem é perfeição..." Perfeição, Legião Urbana.</div></span><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-23334341598651334302021-10-15T18:07:00.002-07:002021-10-16T03:27:24.059-07:00Plié, chassé, jeté...<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando
decidiu fazer a aula experimental, encontrou uma bailarina vestida de carne e
osso, que se afastava daquela figura idealizada dos livros, dos filmes e das
caixinhas de música. Uma figura tão real que ela acreditou ser possível aprender
a dançar naquela altura da vida. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As colegas de turma exibiam uma
desenvoltura que ela não conseguia alcançar. Conheceu as seis posições, a mão
de bailarina, mas não conseguia saltar. Sequer conseguia coordenar as posições
de braço e cabeça nos exercícios na barra, mas adorava mover-se ao som da música
suave, e já ganhava certo equilíbrio, embora a perfeição dos passos ainda fosse
um grande desafio. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Descobriu que as pernas das bailarinas devem
sempre ser cor de rosa, que havia um dia dedicado a elas, já sabia escolher sapatilhas melhores e estava
convencida de que dançar independia da idade e do peso. Mesmo assim, a cada
sábado, prometia que não voltaria, mas lembrava da acolhida carinhosa da
professora na sua chegada, e do empurrãozinho dela, que ajudava a conseguir
alcançar os pés, e acabava voltando.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A pandemia fechou a escola e as aulas
virtuais eram o que faltava para justificar o fim daquela aventura. Afinal, já
havia abandonado várias atividades físicas, e aquela seria apenas mais uma. No
entanto, a professora corrigia cada detalhe individualmente, como em aula
convencional, e vendo todo aquele esforço, ela tentava corresponder, mesmo com
as crianças interferindo na sala de tempos em tempos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No retorno presencial, surgiu o anúncio
de um festival de dança. Indecisa, foi participando dos ensaios, envolvida pelo
entusiasmo das colegas. E foi prosseguindo, amedrontada nos encontros com a
turma avançada, cuja professora parecia ser bem mais enérgica. </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"> Com a proximidade da data de apresentação, percebeu que o conjunto precisava dela, e desistir já não era uma opção.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Levava
a “Valsa das Flores” na memória no caminho para o trabalho, lembrava da
professora, balançando a cabeça como uma boneca, marcando o compasso da música,
e sorria. </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"> E foram muitos vídeos e aulas extras, mas ela permanecia insegura com a
coreografia, e foi assim até o grande dia.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nos
bastidores do espetáculo, ela e uma amiga deram as mãos. Engoliram o choro pelos
pais falecidos vendo uma outra bailarina receber sua sapatilha de pontas do pai. </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"> Entrou e dançou diante de um público que estava frente a frente com
ela, no mesmo plano. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ofegante, de joelho, estática na posse final,
recebeu aplausos demorados. Conseguiu! E em um misto de orgulho e alívio, correu
para abraçar a filha mais velha, que chorava de emoção, exatamente como ela fazia
no papel de mãe nos festivais da escolinha. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estava certa de que foi principalmente o
desejo de não decepcionar a professora, que depositou tanta confiança nela, que
a levou até ali. Conseguiu, graças a perseverança de uma menina, que um dia,
como ela, também não desistiu, e tornou-se professora de ballet...<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">"Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem, ou que seus planos nunca vão dar certo, ou que você nunca vai ser alguém..." Mais uma vez, Legião Urbana. </p>notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-86365558208832570572020-12-22T16:54:00.002-08:002020-12-22T16:54:58.744-08:00Sementes do Coração<p></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"> O espaço
escondido atrás da sala de reuniões e em desuso há vários anos foi escolhido
para abrigar o horto medicinal da unidade de saúde. E apesar do desafio em
revitalizar aquele lugar tão deteriorado e sujo, o projeto encontrou solo
fértil no coração da enfermeira.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O
pavimento incompleto, com mato alto, disfarçando o pequeno limoeiro, os restos
de material elétrico e hidráulico descartados e entulhados após quebra ou
defeito, e a desordem causada pelos gatos que frequentavam o lugar foram desaparecendo,
e finalmente surgiu a terra que serviria de berço para as plantas que estavam
por vir.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A remoção dos blocos de pedra causou
transtorno, fazendo uma fina camada de areia adentrar na unidade e cobrir as
autoclaves. E ela foi chamada a responder por isso, prometendo solucionar o
problema com o plantio das mudas. Naquele momento, percebeu que o projeto, que
a princípio não era de sua autoria, era agora atribuído a ela, e não havia mais
como se omitir...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na manhã seguinte, mesmo de folga,
recebeu inúmeros telefonemas questionando sobre a entrega de um material de
construção na unidade, que associaram a reforma do espaço para o horto, e
conseqüentemente, ao nome dela. Desfez o equívoco, e passou por outros incontáveis
dissabores, transferindo por completo a responsabilidade com o horto medicinal
para uma colega.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Dedicou-se a regar seu sonho de ser
aprovada no doutorado, trabalhando com afinco para conquistar a única vaga
oferecida para sua orientadora, amiga de toda a vida. Mas, entre as leituras
científicas, lá estavam buscas sobre fitoterápicos e hortos medicinais,
evidenciando que o desejo de concluir aquele feito já estava enraizado, e após
a aprovação no processo seletivo, voltou a ser a força motriz do projeto. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com a ajuda financeira dos colegas e o
trabalho de sua equipe, providenciou a pintura das paredes e construção dos
canteiros, e, em uma atitude de coragem e ousadia, inscreveu o projeto em uma
mostra regional de trabalhos, sendo selecionada, de forma surpreendente, para
uma apresentação em nível municipal. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Para a consecução das mudas, visitou duas
instituições, e trouxe as plantas em carro próprio para o posto de saúde.
Aguardou alguns dias, e como não houve qualquer mobilização para o plantio, no
intuito de não desperdiçar as plantas, reuniu sua equipe e foi pessoalmente tratar
de fazer o horto aparecer de fato, dividindo-se entre seus atendimentos em
consultório<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e o plantio durante toda uma
intensa manhã de sol. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O resultado final ainda não saiu como
esperado. Na verdade, estava bem aquém do que ela planejou. Porém, foi
suficiente para ela preencher os slides da apresentação com fotos e exibir todas
as etapas do processo em público, orgulhosa por chegar até ali.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Hoje, quem visita o lugar, vê mudas de babosa,
capim santo, malva, cidreira, dentre outros tipos de plantas. Os tijolos
retirados do antigo piso ainda fazem pilha ao lado do local que servirá um dia
como composteira, um espaço de armazenagem do adubo que será produzido na
própria unidade, como deve ser. Ela, no entanto, quando olha ao redor, vê que
sua determinação e força de vontade podem fazer crescer e florescer coisas
belas, enchendo de cor e beleza, até mesmo os terrenos mais áridos.<o:p></o:p></p><br /><p></p><p><i>"As pessoas se convencem de que a sorte me ajudou, mas plantei cada semente que o meu coração desejou..." </i>Coração Pirata, Roupa Nova.</p>notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-62525547894298720592020-11-11T11:19:00.000-08:002020-11-11T11:19:30.912-08:00Manhã na Paulista<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> O grupo de amigas decidiu deixar o hotel para
aproveitar a manhã de folga do evento científico e realizar compras a preços
populares em um bairro próximo ao local. Ela, no entanto, simulou uma
indisposição e não acompanhou o grupo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Decidiu sair a pé conhecendo um pouco mais de perto a cidade. No
caminho, deparou-se com uma jovem loira, alta e magra, com olhos bem marcados
por sombra escura, usando braceletes em couro preto com <i style="mso-bidi-font-style: normal;">spikes</i>, calça <i style="mso-bidi-font-style: normal;">jeans</i> de
cintura baixa e camiseta branca básica de alcinha, deixando à mostra uma
tatuagem de flor de lótus em seu colo, entre os seios. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Os sons <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de sua guitarra e de sua
voz potente competiam com o barulho do trânsito intenso, e sua qualidade
artística em pouco tempo gerou aglomeração ao seu redor, e um bom dinheiro
preencheu a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">case</i> de seu instrumento
musical que estava deitada ao chão em frente ao suporte do microfone. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Ela aproveitou bastante aquele <i style="mso-bidi-font-style: normal;">show</i>
a céu aberto. Cantou, filmou a performance da moça em seu cover perfeito da Avril
Lavigne, e seguiu seu caminho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Escolheu visitar uma das inúmeras galerias
do centro da cidade, antigos ícones do modernismo, espaços que entraram em
decadência e ainda sobrevivem graças ao comércio popular. Encontrou um antiquário
bastante charmoso, com uma atmosfera mágica. A atendente era uma senhora de
cabelos grisalhos, com óculos pequeninos em formato gatinho, muito elegante,
vestida com uma blusa de tricô, que ostentava um lindo broche de pedrarias em
sua maxi gola, e uma calça de alfaiataria, de corte impecável. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>A suave música ambiente relembrava clássicos da MPB e ajudava a
mergulhar na história de cada objeto disposto ali. Viu lindos camafeus, melindrosas,
ânforas pintadas a mão e vasos de murano azul. Nas paredes, várias fotos da
senhorinha, dona do local, acompanhada de artistas de uma famosa emissora de
televisão, lembranças de seus tempos como figurante, quando surgiu a ideia de
assumir o negócio de peças antigas de uma amiga.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Saiu da loja e seguiu deslumbrada com a série de itens exclusivos das
vitrines diante de seus olhos. Percebeu que já estava distante do hotel e resolveu
retornar. Ao tentar atravessar a rua, observou uma mulher, na parada de ônibus,
segurando a mão de uma menina com estatura de aproximadamente quatro anos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como em um quadro, a garoa que insistia em permanecer, tornava a imagem
da garotinha ainda mais bela....Pele clara, com bochechas cor de romã, coradas
pelo frio, cabelo castanho, liso, em corte <i>Channel</i>, blusa branca com
mangas fofas, salopete em veludo azul marinho, meia calça e sapatinho vermelho em
verniz. Uma verdadeira boneca viva, que subiu no coletivo e desapareceu como
uma miragem...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Seguiu pela calçada buscando um local agradável para um café, e quase
esbarrou em uma mulher apressada, que parecia ter saído de um filme da década
de 80, ambientado em Nova Iorque. Com batom vermelho vivo, vestido tubinho,
acessórios caros, salto agulha e um sobretudo que arrematava seu visual
executivo, ela segurava um copo da <i>Starbucks</i> enquanto acenava para o
táxi, apoiando o celular no ombro enquanto conversava...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sorriu desejando que aquela mulher esbarrasse
em um grande amor, ou mesmo que se interessasse pelo taxista, ou outro alguém qualquer
que considerasse adorável sua maneira estabanada, e consertasse a bagunça de
sua vida e de seu coração...E que vivesse feliz pra sempre, após receber um
beijo apaixonado no saguão de um aeroporto, minutos depois de desistir de
partir para outro país a trabalho...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Avistou feliz uma confeitaria com ambientação romântica, em tons
pastéis, papel de parede floral e uma delicadeza em cada detalhe do serviço. Lá,
os jogos americanos eram de papel, com uma moldura impressa, e sobre a mesa
havia um potinho com giz de cera, convidando os clientes a desenhar algo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Ela aceitou a brincadeira e tentou desenhar em traços rápidos a última
mulher que encontrou em seu passeio. A garçonete perfumada e sorridente, de
lindos olhos azuis, que vestia um conjunto de avental e touca estampadas com <i>cupcakes
</i>coloridos. Abaixo do desenho, deixou por escrito um agradecimento pelo
atendimento recebido e saiu. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Ao retirar a mesa, vendo que se tratava dela, a garçonete exibiu o papel
para todos os colegas do lugar e fixou a folha no espaço dedicado a exposição
dos desenhos na confeitaria.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Ela observava tudo de longe, através da janela, e retornou para hotel renovada.
Tirou grandes lições ao ver todo o refinamento de cada uma daquelas mulheres, e
a responsabilidade e alegria com que exerciam seus papéis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Chegou a tempo de receber as amigas, carregadas de sacolas, repletas de
imitações grosseiras de roupas e acessórios de marcas renomadas. Prometeu
acompanhá-las no dia seguinte e escutou pacientemente todas as perícias do
grupo durante o passeio da manhã. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Lembrou-se do pequeno porta jóias de porcelana européia, estilo Luís XIV,
pintado a mão, que adquiriu no antiquário e estava guardadinho na sua suíte, e teve
certeza de que fez a melhor escolha para aquele dia...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span><i style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><span style="background: white; color: #202124; line-height: 150%;">"Na medida do impossível</span>, tá dando pra se viver. Na
cidade de São Paulo, o amor é imprevisível como você,e eu,
e o céu..." Lá vou eu (Zélia Ducan).</span></i></p>notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-46619691172227007572020-08-26T13:58:00.001-07:002020-08-26T13:58:49.325-07:00Livre Mercado<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O trânsito próximo a rua principal do
bairro já estava complicado no início da manhã. Era dia de feira livre e os
desvios eram inevitáveis para driblar a quantidade imensa de veículos das
pessoas atraídas como imãs para aquele espaço popular.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Bancas com produtos diversos
enfileiradas dos dois lados do canteiro central ofereciam desde frutas e
verduras até produtos inusitados como remédios, cosméticos, eletrônicos e roupa
de cama, mesa e banho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Uma
multidão em movimento em meio a sons, cores, cheiros e sabores. Feirantes, fregueses
e passantes andavam, comiam, negociavam coisas, conversavam e riam, compondo
uma paisagem hipnotizante e cheia de vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Uma
experiência inesperada para ela, acostumada ao conforto do ambiente refrigerado
do supermercado... Os ritornelos dos feirantes se misturavam com a conversação criando
sons indecifráveis. Lonas esticadas pelo chão, caixas de isopor, gaiolas com bichos
e mudas de plantas expostas, formavam uma arquitetura quase labiríntica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A quantidade de serviços oferecidos
chamou sua atenção. Na feira era possível, por exemplo, trocar a película
danificada do celular, consertar panelas, a ainda conseguir adquirir alguma
peça de um objeto antigo que precisasse de reparo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lembrou-se
dos tempos de criança, quando acompanhava a mãe na feira, visualizando de longe
a barraca de plantas medicinais, repleta de maços de eucaliptos, talos de
babosa, folhas de boldo, e garrafadas criadas por especialistas em curar
qualquer mal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A feira carrega consigo uma áurea de
mistério. Montada de madrugada, ela surge com o dia e desaparece após o almoço,
em um movimento de construção e desconstrução eterna. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Percorrendo aquele emaranhado, ela teve a
sensação de encontrar um elo perdido na história humana, imaginando que,
guardadas as diferenças locais, aquele tipo de comércio ambulante sempre
funcionou da mesma forma ao longo do tempo, ao redor do mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O ecletismo do público, representado por
pessoas de todas as idades e classes sociais, as negociações em busca do melhor
preço, as frutas cortadas na hora, assim como os frangos desossados, e o cheiro
forte de peixe ofereciam aos sentidos um espetáculo capaz de gerar histórias a
perder de vista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sentiu
um pouquinho o gosto da vida simples e descomplicada de seus colegas de
trabalho que a acompanhavam, e decidiu aceitar mais vezes o desafio de trocar
experiências de um mundo “prontinho e organizado” por aquelas de um mundo perfeito
e delicioso exatamente por ser imprevisível...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“A vida não é problema, é batalha,
desafio. Cada obstáculo é uma lição, eu anuncio...”</span></i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A vida é desafio, Racionais Mc's<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-79055519227916593882020-07-04T17:37:00.002-07:002020-07-04T17:37:44.571-07:00Ao vencedor, as formigas! <br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Era pôr do sol em São Benedito. O
menino correu para o seu quarto, pegou sua latinha vazia de leite em pó e se
dirigiu para a rua ao encontro dos amigos. A revoada de tanajuras se aproximava
e eles estavam a postos, com chinelos nas mãos, esperando o momento certo para
interromper aquele voo e capturá-las. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O antigo costume indígena de caçar e
comer formigas ganhava outro significado. Agora, era uma divertida brincadeira
de rua para a molecada, que competia pelos insetos sem se importar com uma ou
outra dolorida picada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Rapidamente, as formigas perdiam a parte dianteira
do corpo e as asas, e as latinhas ficavam cheias apenas da parte comestível: o abdômen
das içás! Após a captura, as crianças voltavam orgulhosas para casa e entregavam
para suas mães o apurado do dia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As formigas eram lavadas e fritavam
na manteiga exalando um cheiro forte que impregnava todo o ambiente e virava
mais uma doce memória de infância daqueles meninos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Acompanhadas de farofa, as formigas se
transformavam em uma iguaria exótica, popularmente conhecida como “bunda de
tanajura”. Crocantes e gordurosas, tinham um sabor indescritível, melhor que
qualquer salgadinho de festa. E todo esse ritual se repetia por mais alguns
dias, enquanto houvesse a oferta do animal...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Era pôr do sol em Fortaleza. Tempos difíceis
de confinamento por uma pandemia que causava várias perdas e tolhia a alegria e
a liberdade de todos. Depois de mais de trinta anos, o menino, agora casado e
com dois filhos, contemplava pela janela de seu apartamento o degradê
alaranjado que se formou no céu. Lembrou da caçada das tanajuras e sorriu.
Capturou a imagem diante de seus olhos em uma foto e compartilhou no <i>status</i> do aplicativo do
celular. Ainda que involuntariamente, esperava talvez despertar algumas boas
lembranças e acalentar quem o visse...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i>" Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração. Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão..." (Bola de Meia, bola de gude, 14 Bis)</i></div>
<br />notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-14659255828806436852020-04-29T06:59:00.000-07:002020-04-29T06:59:34.174-07:00Quarenta anos em quarentena dias<div style="text-align: justify;">
Silenciou seus gritos. Encimesmada, ensudercia por dentro em um caminho que parecia sem volta. No percurso de casa para o trabalho, observava o trânsito de pessoas e veículos em plena quarentena e questionava a si mesma se existiam tantos serviços essenciais em sua cidade que justificassem aquela intensa movimentação. Era isso, ou encher-se de revolta diante da constatação de que seus esforços como profissioanal de saúde não adiantavam nada diante dos comportamentos irreponsáveis da população em geral.</div>
<div style="text-align: justify;">
Como em ciclo cardíaco de sístole e diástole, sua vida ia do vale ao topo do monte em fração de segundos. Diante de tantos atos tresloucados que testemunhava em seu dia a dia no trabalho, era cada vez mais difícil controlar seus impulsos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Parafraseando Elis, sentia que “a lucidez a levava às raias da loucura”. Era julgada como desvairada, e aconselhada a perseguir uma conduta humilde e mansa, típica de um espírito contrito que ela nunca abrigou em si. Aplicava um esforço sobrehumano nesse sentido, sem qualquer êxito.</div>
<div style="text-align: justify;">
Capricorniana, introspectiva, avessa a superficialidade, buscava compreender seus sentimentos diante desse momento tão delicado nas conversas por aplicativos com amigos seletos, pois os <i>hobbies</i> há muito tempo já não amenizavam as tensões que sofria.</div>
<div style="text-align: justify;">
Torcia pela recuperação do reitor poeta de sua universidade de origem, anciosa pela expressão de seu olhar como paciente em um doce e profundo poema, distante dos relatos sofridos dos outros sobreviventes a toda essa desgraça, que espalhavam palavras de pânico e não ofereciam alento aos demais.</div>
<div style="text-align: justify;">
Impetuosa, queria mesmo poder chorar compulsivamente sempre que possível, até esgotar toda a sua angústia, pois acreditava que assim poderia limpar seus pensamentos embassados com a mesma facilidade com que limpava as lentes dos óculos, turvas pelo uso das máscaras. Sem essa alternativa, engolia o choro como criança, e a garganta ardia, os olhos queimavam e o sangre fervia com toda essa frustração...</div>
<div style="text-align: justify;">
Passaram-se quarentena dias... Silenciou seus gritos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda, é apenas o meu jeito de viver o que é amar..." Sangrando, Gonzaguinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-73350606492366659642020-04-22T11:20:00.000-07:002020-04-22T11:20:48.737-07:00A palavra é parcimônia<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Todos
os dias, impreterivelmente, revestia o corpo com touca, máscara, protetor
facial, avental e luvas descartáveis antes de iniciar seu trabalho. O espírito,
no entanto, estava vacilante...Alguns dias, aparecia em traje mais formal,
cheio de coragem e ânimo. Em outros, parecia despido, deixando à mostra toda a
fragilidade e insegurança em lidar com uma doença tão devastadora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quase irreconhecível, foi questionada por
uma paciente sobre o motivo daquele atendimento tão distante e frio. Caiu em
si, e sentiu-se envergonhada diante da constatação de que seu cuidado, sempre tão
vivo, tão afetuoso, estava morto. Explicou a necessidade de manter aquela
conduta de afastamento, assegurando que em breve voltaria a tratá-la com a espontaneidade
de sempre, embora em seu íntimo não estivesse convencida disso...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tinha
conhecimento dos amigos adoecidos, e o exemplo dos colegas que resistiam,
abandonando suas casas e famílias para dedicar-se a ajudar a quem precisava, e
continuava dia após dia em seu penar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pouco
adiantava agarrar-se às notícias positivas vinculadas na mídia, pois o alívio ia
embora em fração de segundos, como se seguisse o deslizar dos dedos na tela do
celular. Logo em seguida, a sensação de impotência novamente ganhava forma
diante de números assustadores de óbitos, e deixava os pensamentos turvos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No entanto, seu senso de justiça insistia
em ser superior ao seu temor, e ela repugnava a conduta de quem se valia de
inúmeras estratégias para se esquivar do atendimento a pessoas sintomáticas.
Assim, seguia no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">front </i>da pandemia, o
maior desafio de sua trajetória profissional até então, optando pela coragem,
pois não suportaria relembrar esses momentos sob o peso da desonra da covardia...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">"</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Se me der um beijo eu gosto/ </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Se me der um tapa eu brigo/ </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Se me der um grito não calo/</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Se mandar calar mais eu falo./ </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Mas se me der a mão, claro, aperto/ </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Se for franco, direto e aberto/</span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Tô contigo amigo e não abro/ </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif;">Vamos ver o diabo de perto..." <i>Recado, Gonzaguinha.</i></span></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-91962191632800043112020-03-31T19:39:00.000-07:002020-03-31T19:39:14.978-07:00Lágrimas
<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;"> Entrava nas casas como se a
ameaça invisível que lhe roubava o sono estivesse presente por toda a parte, à
espreita, aguardando uma oportunidade para jogá-la nos números de casos
confirmados da doença divulgados todos os dias em seu Estado. Porém, recebia o
sorriso dos idosos e cuidadores que conhecia há anos e sentia-se envergonhada
por temer aquelas visitas daquela forma.</span></div>
<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;">
Não conseguia mais ser expansiva e engraçada como de costume, o que
causava certo estranhamento nas pessoas. A proibição do contato físico gerava
um comportamento frio que afrontava a sua humanidade. A falta do toque, do
afeto, descaracterizava seu cuidado e gerava uma angústia que a adoecia, mesmo
na ausência do diagnóstico.</span></div>
<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;"> Definitivamente, não era assintomática! Estava abatida, emagrecia a olhos
vistos, sem qualquer esforço, e deixava transparecer a dor em seu semblante
carregado de olheiras profundas, e no abandono de sua vaidade, no modo de
vestir, na falta de adornos, e na maquiagem já deixada de lado. </span></div>
<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;"> Percorria as ruas quase desertas do bairro sofrendo calada,
imaginando a tragédia que iria se abater sobre aquelas pessoas tão
indefesas...O idoso acamado por fratura de fêmur, aquele outro que sofreu uma
amputação, o casal de cadeirantes que morava sozinho, e aquela senhora, com
olhos azuis celestes, que devido as circunstâncias, interrompeu seu tratamento
oncológico...</span></div>
<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em meio a toda a tristeza desse
cenário, ainda tinha que lidar com a euforia das pessoas em torno da sua
presença, como se portasse naquela caixa térmica cheia de vacinas, a cura daquele
mal... </span></div>
<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ser recebida assim, de forma
inocente, como uma heroína, agigantava seus sentimentos de caridade e compaixão
por toda aquela gente.</span></div>
<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;">
Queria manter-se forte, mas seu espírito estava desolado. Nunca
foi tão difícil manter a esperança em dias melhores. Nunca foi tão difícil
olhar para sua equipe e conseguir ser a força a motivar e impulsionar a seguir.
Nunca foi tão difícil ser enfermeira...</span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;">"There will be an answer, let it be, let it be..." The Beatles, Let it be.</span></div>
<b></b><i></i><u></u><sub></sub><sup></sup><strike></strike>notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-19621038598341236942020-02-28T10:16:00.000-08:002020-02-28T10:16:13.581-08:00Doces Memórias<div style="text-align: justify;">
<b> </b>Na minha casa muitas coisas trazem lembranças, como o velho relógio da minha falecida avó paterna. Lembro de um bichinho de pelúcia que brincava com a minha irmãzinha, que proporcionou momentos divertidos e alegres.</div>
<div style="text-align: justify;">
Lembro-me do primeiro livro que li sozinha aos sete anos. Fotos do meu primeiro festival de dança e do primeiro espetáculo de teatro. Conchinhas que peguei na minha primeira ida a praia guardadas em uma caixinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
Meu primeiro dente de leite, as ferramentas antigas do meu avô, um retrato de minha mãe quando criança, um terço de minha bisavó materna, jogos que joguei com meus primos nas férias passadas, desenhos, histórias...</div>
<div style="text-align: justify;">
Só tenho dez anos, mas a vida já me deu doces memórias que vão ficar marcadas no coração. Coisas simples e maravilhosas que me fazem querer voltar no tempo para poder reviver essas experiências tão especiais para mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
OBS: Atividade de redação da minha filha durante o cursinho preparatório para o concurso de admissão do Colégio Militar de Fortaleza. Seu texto recebeu a maior nota da sede onde estuda, e ganhou espaço no meu blog e no meu coração...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> "Não sei se eu saberia chegar até o final do dia sem você..." Tudo sobre você, Zélia Duncan</i></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-47762741579846843932019-11-26T11:29:00.000-08:002019-11-26T11:29:29.354-08:00Visita Domiciliar<br />
<div style="margin-bottom: 0cm; page-break-before: always;">
<b>Casa 1</b></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
A visita
iniciou tranquilamente. A enfermeira ouvia com atenção o relato de
dona Lourdes, constatando que todas as tomadas de medicações
diárias estavam equivocadas. O médico atualizou as receitas e
desenhou as capsulas a serem administradas pela manhã, após o
almoço e à noite. A enfermeira organizou tudo em uma caixa, com
divisórias de papelão, colando na tampa o papel com a orientação
médica para consulta em caso de dúvidas.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
O médico
seguiu examinando a paciente e verificando seus exames mais recentes.
Enquanto isso, a enfermeira escutou um choro vindo da sala. Saiu do
quarto para averiguar e encontrou Marciana, a filha de Dona Lourdes.
Ela engomava uma toalha de banho. Era a última peça do kit de
roupas solicitado pelo presídio onde seu filho de 21 anos estava há
dois meses. Preso por furto, aguardava audiência para o mês
seguinte, e Marciana, em seu sofrimento de mãe, diariamente recorria
ao uso compulsivo de medicações para conseguir dormir.</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
A
enfermeira olhava incrédula para o retrato do menino na parede. Há
11 anos trabalhando no mesmo posto de saúde, viu aquela criança
“adolescer”. Estranhou a mudança de imagem, o cabelo com luzes e
as tatuagens que em pouco tempo cobriram seu corpo. Lembrou da
consulta em que ele relevou o uso de drogas ilícitas, e pensou no
que poderia ter feito além do atendimento de rotina.</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
O médico
finalizou a visita, e foram para o carro. Teresinha acenou para a
enfermeira, debruçada na janela de casa, do outro lado da rua.
Trabalhava em um shopping, em serviços gerais, fazia uso crônico de
psicotrópicos, e cuidava sozinha da filha de oito anos, desde que os
pais foram mortos por desafetos do irmão, que sumiu pelo mundo para
não ter o mesmo fim.</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
A
lembrança dessa história causou certa aflição a enfermeira, que
olhando pelo retrovisor, desejou, do fundo do coração, que a
história tivesse outro desfecho para Marciana...</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<b>Casa 2</b></div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
Quando
chegamos, dona Iêda estava sentada em sua cadeira de rodas, na área
de frente da casa, descascando uma maça. A doença de Alzheimer
apagou quase por completo a imagem da professora inteligente e
trabalhadora, e colocou em seu rosto um olhar distante e um sorriso
infantil. Tentando algum contato, o médico disse para dona Iêda que
a ausculta cardíaca revelou um coração apaixonado. Para surpresa
de toda a equipe que acompanhava a visita domiciliar, ela chorou e
disse: “- É pelo Azevedo. Não esqueci dele nem um dia...”</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
Comovida, a
enfermeira ajoelhou-se ao lado da cadeira, segurou a mão trêmula de
dona Iêda e pediu que ela contasse mais sobre o que sentia. Começou
a ouvir sobre um romance que ela viveu aos dezesseis anos. Contou que
se apaixonou perdidamente e cometeu a insensatez de exibir para ele o
seu tornozelo! Um gesto que, segundo ela, naquela época, unia para
sempre um casal. E eles logo trataram de encontrar uma maneira de
efetivar essa união. Azevedo planejava levá-la para passar a noite
na casa de uma prima, e no outro dia, chegaria com dona Iêda na casa
de seus pais, tornando o casamento inevitável. Porém, chorando
bastante, ela contou que o plano fracassou, e que se casou com seu
marido somente para “evitar o falatório”.</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
A
enfermeira tentou acalmá-la, pois o médico estava desconcertado com
o que tinha rendido sua brincadeira, e somente observava calado o
desenrolar da conversa. A filha de dona Iêda, que também assistia
tudo, demonstrou grande desconforto, sentida pelo pai, já falecido.
E assim, o mais prudente a fazer foi encerrar a visita por ali...</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
O silêncio
de todos no carro não precisava de tradução. A memória afetiva
daquela mulher estava ali, presente, mostrando que o amor é parte do
que somos, e não se apaga...</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<b>Casa 3</b></div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
Já estávamos
indo embora quando dona Julieta veio atender a campainha. Aos setenta
anos, sofria com dores articulares que prejudicavam sua mobilidade.
Ir ao posto de saúde tornou-se tarefa laboriosa, o que justificava a
visita domiciliar. Na sala, inúmeras sacolas com retalhos de tecido
e caixas com artigos de armarinho. A antiga máquina Singer e o
ofício de costureira foram herdados da mãe, quase centenária,
falecida há alguns meses. Depressiva pela perda, contou que passou a
costurar roupinhas para a coleção de bonecas Susy da mãe, e nos
chamou para ir até um quarto localizado nos fundos da casa.
</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
Lá,
encontramos prateleiras repletas de bonecas, com lindos vestidos de
festa. A coleção de Dona Julieta contabilizava 179 bonecas. Todas
organizadas, enfileiradas, embaladas, como se tivessem acabado de ser
fabricadas. Ela foi mostrando os detalhes de cada modelo, falando do
trabalho minucioso para cortar moldes tão pequenininhos, costurar
rendas e bordar continhas. Segundo ela, o quarto de bonecas foi
avaliado em mais de 12 mil reais por um especialista, que insistiu
com dona Julieta para que ela participasse de exposições e eventos
com suas peças, mas ela nunca aceitou.</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
Quase
instantaneamente, a enfermeira pensou em suas meninas. Queria que
elas pudessem apreciar aquilo tudo, mas logo em seguida, foi tomada
por outros pensamentos...Quanto mais dona Julieta falava, mais ela
enxergava o sofrimento escondido naquela beleza toda. Imaginou aquela
senhora trabalhando insistentemente, o dia todo criando novas
roupinhas, trocando as bonecas, limpando uma a uma, tudo para tentar
amenizar a tristeza que sentia com a falta da mãe, mas diante da
admiração de todos, guardou suas impressões.</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
Pelo adiantado
da hora, e pelo cansaço físico e emocional daquela tarde, era
preciso retornar. E as visitas foram encerradas, deixando ainda mais
claro que a vida real muitas vezes desmente o que se aprende nos
livros...</div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><span jsname="YS01Ge" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: left;">"O tom da conversa que ouço me criva, d</span><span jsname="YS01Ge" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: left;">e setas e facas, e favos de mel. </span></i><span jsname="YS01Ge" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: left;"><i>É a peleja do diabo com o dono do céu." </i>A peleja do diabo com o dono do ceú, Zé Ramalho.</span></div>
<br />notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-86848433839697737032019-06-12T14:10:00.000-07:002019-06-12T14:10:51.698-07:00Faxina<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Luiza resolveu aproveitar seu dia de folga
para organizar sua casa. Começou pela estante de livros. Foi separando em uma
caixa exemplares que já não interessavam tanto no intuito de doar para alguma
instituição ou simplesmente “abandonar” em alguma estante solidária em lugar
público para permitir que os livros chegassem a vários outros leitores. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Folheando os livros, encontrou dedicatórias
carinhosas, mas resistiu ao impulso de arrancar as páginas. Pensou que seria
divertido para o novo leitor imaginar a quem pertenceu aquela obra e o porquê
do presente. Os livros guardavam também selos, fotos 3x4 antigas e nomes e
números de telefone escritos em pequenos pedacinhos de papel, que serviam como
marcadores de página quando ela estava desprevenida fora de casa, talvez na
sala de espera de algum consultório ou em um transporte coletivo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Terminando a seleção dos livros, passou a
vasculhar os armários. Separou roupas e sapatos para doação. Praticar o
desapego nunca foi difícil para Luiza, pois gostava de ajudar pessoas, e tudo o
que parecia não servir mais ganhava sempre um bom destino, como um bazar de
caridade da igreja que frequentava. Dobrou vestidos de festa pouco utilizados,
mas com modelos já ultrapassados, e umas calças <i style="mso-bidi-font-style: normal;">jeans</i> que há muito esperavam pelo dia em que ela levaria a sério
sua dieta e voltaria ao seu peso da juventude. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Determinada a pôr tudo em ordem, deixou o
lixo repleto de objetos imprestáveis: bijuterias estragadas, acessórios,
remédios e cosméticos vencidos, artigos de papelaria, capinhas de celular, etc.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A parte mais complicada da organização foram
as pastas com documentos e papeis...Entre a bagunça, encontrou comprovantes de
pagamentos, publicações impressas em diário oficial, artigos científicos da
época de estudante, certificados, cupons fiscais, exames de imagem e
laboratoriais antigos, manuais de instrução de equipamentos que já nem possuía
mais, dentre outros. Foi separando tudo por data, etiquetando em novas pastas e
separando o que poderia ser enviado para reciclagem de papel.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas mesmo assim, ainda deixou muito por
fazer. A repetição tornou-se enfadonha demais, mesmo ouvindo e cantando músicas
durante o trabalho<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>para manter o
pique. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Descendo as escadas, olhou para a grande
quantidade de brinquedos das filhas, e também resolveu mexer lá. Tentou limpar
bonecas estragadas, arrumar as roupinhas, e quando ia jogar fora aqueles
brindes inúteis que acompanham os lanches rápidos das crianças, e uma coleção
de copos e sacolas recebidas como lembrancinhas de aniversário, foi
surpreendida pela diarista, que pediu os artigos para seus filhos. Sentiu-se constrangida,
por serem objetos sem valor, mas consentiu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Precisando de mais espaço nos armários
da cozinha, retirou peças de louça e utensílios que estavam sem par. Trocou
depósitos velhos pelos novos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tupperware </i>que
havia comprado. Abriu um jogo de jantar de porcelana, presente de casamento,
mantido em um baú na dispensa de casa, e colocou para uso no dia a dia. E
continuou enfeitando tudo pela casa...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Toalhas de mesa bordadas pela mãe foram
lavadas e começaram a aparecer aos finais de semana. Imagens sacras, quadros,
porta-retratos e outros objetos comprados em viagens ganharam lugar de
destaque, e os móveis mudaram de posição, o que fez a casa parecer mais ampla e
bonita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Até a área externa Luiza resolveu mudar. Comprou
um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pallet </i>e suspendeu as plantas em vários
jarrinhos. Foi a maneira que encontrou para manter o verde das plantas no
jardim, longe dos ataques de sua cadela. E apreciou muito o resultado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Infelizmente,
os dias foram passando e a sensação de limpeza e organização da casa foi indo
embora mais uma vez. Novas pilhas de papel surgiram, as crianças seguiram
acumulando mimos de aniversário, objetos danificados foram guardados na esperança
de algum conserto, etc. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Assistindo TV, balançando na rede, olhando
ao seu redor, Luiza percebeu que poderia mudar a casa toda, menos os hábitos de
sua família, e decidiu que ia continuar organizando tudo de vez em quando,
porque gostava disso, mas não iria exigir que o marido e as filhas se
adequassem a isso. Sorriu sozinha, pensando se teria essa maturidade quando
encontrasse roupas espalhadas e copos esquecidos no sofá, e ficou um bom tempo
imaginando como poderia aproveitar melhor seu próximo dia de folga...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Eu hoje joguei tanta coisa fora/E lendo
teus bilhetes, eu lembro do que fiz/ Cartas e fotografias gente que foi embora/
A casa fica bem melhor assim...” </span></i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tendo a Lua, Paralamas do
Sucesso. <o:p></o:p></span></div>
<br />notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-40077363268421298562019-06-12T08:19:00.000-07:002019-06-12T08:19:32.703-07:00Sobre cartas e presentes...<br />
<div align="center" class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></b><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";">Maria era uma exímia bordadeira. Fazia enxovais completos para
recém-nascidos à mão. Francisco trabalhava viajando, percorrendo vários
municípios a serviço da Secretaria de Agricultura do seu Estado de origem.
Certo dia, Maria foi acompanhar seu irmão padre em uma cidadezinha do interior,
para ajudar na Casa Paroquial, e o encontro aconteceu…</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O rapaz estava de casamento marcado com
uma moça muito conhecida na cidade por seu grande talento para a culinária, e
em especial, para doces. Ele precisou ir até a igreja para acertar detalhes do
casório, e avistou Maria, sentada em sua máquina de costura, preparando coisas
lindas para mais um bebê que estava prestes a chegar. Aquela figura doce e
serena o encantou de tal forma, que decidiu protelar o casamento. E as visitas
à igreja se tornaram cada vez mais frequentes quando ele estava no lugar.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>O tempo foi passando, os dois se aproximaram, e Francisco decidiu
desfazer seu noivado. Apaixonados, eles passaram a corresponder-se por cartas.
Foi a maneira que encontraram para esconder o que sentiam aos olhos de toda a
cidade, que ficou estarrecida com o fim do noivado, uma vez que os noivos já
haviam comprado casa e mobiliado tudo, mas Francisco não voltou atrás.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sem coragem para revelar o que
sentiam, o namoro seguiu por correspondência e com alguns encontros fortuitos
quando ele estava no lugar. O tempo passou um pouco mais e o rapaz estava
decidido a assumir o namoro publicamente, quando o pai de Maria faleceu. As
coisas pioraram para ele, pois o irmão padre era agora o responsável pela
família toda, formada pela mãe e oito irmãos. Muito astuto, Francisco soube do
desejo do padre em reformar a paróquia, e para aproximar-se dele, sugeriu ao sacerdote
que escrevesse cartas a todos os fiéis mais abastados do lugar solicitando
doações. E assim o pároco fez. Em pouco tempo, a paróquia estava nova e
ampliada. E Francisco ganhou a afeição do padre.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Logo os dois conseguiram ficar
juntos. Casaram após doze anos de namoro e tiveram apenas uma filha. Francisco
vendeu tudo o que havia comprado para o casamento que nunca aconteceu, mas
preservou um presente: o fogão! A filha presenciou brigas terríveis entre os
pais por causa deste item, mas era pequena demais pra entender sobre o ciúme de
uma mulher. Maria parou de bordar e virou dona de casa. Desde então, só se
arriscava em enfeitar peças de pano para casa e vestidos para a menina. Como
mãe, sempre atarefada com a rotina doméstica, sem perceber, deixava a filha por
muito tempo aos cuidados do pai.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Francisco apropriou-se da menina como se ela
fosse o tesouro mais precioso que havia conquistado na vida. Viveram muitas
coisas juntos. Ele realizou todos os seus sonhos, mimou o quanto podia, e
ensinou muito sobre generosidade e gratidão. E todas as vezes que ela chorou, ele
ofereceu o seu abraço mais afetuoso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um dia, ele levou a menina para
andar de bicicleta, e na pracinha, a pequena questionou sobre o fogão. Pediu
para o pai desfazer-se daquilo, tomada pela raiva da mãe. E ele explicou que o
fogão foi o presente mais especial de todos daquela casa que nunca existiu.
Escolheu o melhor eletrodoméstico porque esperava que a doceira fizesse ainda
mais sucesso na cidade, e também porque ela passaria a maior parte do tempo lá,
cozinhando, e isso o tornaria especial. Foi a partir de então que a menina
passou a prestar mais atenção nessa história de dar e receber presentes…<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A menina tornou-se enfermeira,
casou-se e perdeu a avó e o pai em anos seguidos. A morte de Francisco a
destruiu por dentro, e ela ainda precisava manter-se forte para amparar a mãe.
Afinal, não tinha irmãos para dividir nada… Nos primeiros dias, achou que Maria
fosse ficar deprimida, e dedicou mais atenção a ela. Um dia, após um choro
compulsivo de quase dez minutos, a mãe, sufocada de dor, disse para a filha que
lamentava não ter guardado nenhuma das cartas de amor do tempo de namoro. E aquela
menina de antigamente foi com ela, resgatar lembranças e ajudar a superar todo
aquele luto.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Maria pegou uma frasqueira, que foi
presente dele, e disse que tudo o que restava era um cartão e uma caixinha que
veio dentro dela. A filha pediu que explicasse aquele presente. Ela começou
contando que durante o namoro, solicitou a Francisco que comprasse uma
frasqueira para guardar as fitas, linhas e apetrechos para bordar, e em uma de
suas viagens, ele comprou. Porém, como o namoro ainda não havia sido revelado,
ele resolveu esconder, em um bolsinho da frasqueira, o cartão e uma caixinha
com um terço de prata. A menina, a esta altura da vida, já toda entendida em
presentes e histórias de amor, consolou a mãe dizendo que ela havia guardado o
que foi mais significativo para ela. Na época, ela manuseava a frasqueira o dia
todo para costurar, e assim, de alguma forma, ele estava lá… Além disso, ao
final do dia, ela podia ler e reler o cartão, e ainda, tomar o terço nas mãos e
pedir a Deus proteção para ele em tantas viagens. Maria sorriu, agradeceu a
filha e disse que a melhor lembrança de Francisco era o presente que havia
nascido no Natal para ela. No caso, a filha.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E com todos esses exemplos, a menina
foi compreendendo ainda mais sobre cartas e presentes...</span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";">“Naquela mesa tá faltando ele, e a saudade dele, tá doendo em
mim...” </span></i><span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";">Naquela
Mesa, Nelson Gonçalves.<o:p></o:p></span></div>
<span style="color: black; font-family: "Arial","sans-serif";"></span><br />
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-50533982116013676992019-06-07T16:37:00.000-07:002019-06-07T16:37:30.841-07:00Oficina descomplicada<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Para
Giulia, aquela era apenas mais uma visita a oficina mecânica. Seu </span><i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Volkswagen</i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> há um bom tempo já necessitava
de reparos periódicos e ela já estava familiarizada com aquele ambiente,
considerado nada hospitaleiro para a maioria das mulheres.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Entregou as chaves do veículo no
balcão e dirigiu-se para a sala de espera dos clientes. O serviço daquele dia
era troca de pneus, alinhamento e balanceamento. Pacientemente, serviu-se de um
café e começou a ler o jornal local. Nesse momento, Maria entrou na sala
acompanhada de seu marido João e seus protestos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> João alegava que iria apenas aguardar o
parecer técnico, mas já sabia que seria o mesmo das outras vezes, quando o
carro, recém adquirido, tinha precisado de conserto: dano causado por mal uso
do veículo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Indignada, Maria revidou dizendo que a
culpa não poderia ser creditada apenas a ela, considerando que o carro atual
era bem inferior ao que tinha antes. Diante disso, João lembrou-lhe dos episódios
passados, quando, por exemplo, o ar-condicionado quebrou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> A conversa já começava a desandar
quando foi interrompida por Glauber, proprietário da oficina, que entrou na
sala de espera para passar o orçamento,<span style="color: red;"> </span>sugerindo
a troca da caixa de marchas. Conhecendo o casal, ele evitou maiores comentários
a respeito, mas João fez questão de esmiuçar o diagnóstico apresentado e
perguntou: "- É comum um desgaste tão precoce dessa peça?"
Desconcertado, escolhendo as palavras, ele disse que<span style="color: red;">,</span>
geralmente, o hábito em manter o pé na embreagem e "segurar" o carro
sem utilizar o “freio de mão”<span style="color: red;"> </span>poderia antecipar
o problema. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Enraivecido,
João decide dar uma lição na esposa, e ao invés de deixá-la no <i>shopping</i> como de costume e permanecer na
oficina acompanhando o serviço, resolveu inverter esses papéis. Despediu-se da esposa,
que ficou bastante contrariada, e disse que retornaria em duas horas. Esperava
que, com isso, ela compreendesse todo o desgaste que ele passava, entregando e
recebendo o carro para comodidade dela. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Glauber aproxima-se de Giulia e Maria e
as convida para conhecer a oficina e aprender algumas coisas úteis sobre os
carros e sua manutenção. Ele aponta para o elevador automotivo ao centro do
galpão, e diz: “- Aquele é Seu Mardônio, ao lado de sua <i>Discovery </i>verde oliva, veículo que ele conserva consigo há anos,
pois marcou sua prosperidade financeira como dono de um cursinho pré-vestibular
renomado na cidade”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Logo à direita, eles cumprimentam Tia
Edilene, que aproveitava para panfletar, oferecendo seus serviços de transporte
escolar, enquanto seu <i>Citroen Jumper</i>
passava pela revisão de dez itens oferecida pela oficina. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Inesperadamente, o motor do fusca 73
"amarelo queimado" de Seu Gilberto anuncia sua chegada. Luiz, que ia começar
a substituir o Santo Antônio de uma <i>Saveiro
Cross</i>, interrompe o serviço para recepcionar o cliente ilustre, pois apenas
ele estava autorizado a mexer naquele tesouro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Glauber explica as clientes que o <i>hobby</i> de seu Gilberto em garimpar peças
originais para o veículo fez com que seu "besouro" chegasse a ser
premiado em exposições por sua fidelidade ao padrão da época em que foi
fabricado. <span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Maria ficou hipnotizada pelo carro,
circulando e observando seus detalhes, até encher-se de coragem e pedir uma
foto no veículo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Nesse momento, João retorna e encontra
a esposa sorridente. Para surpresa dele, no caminho de volta para casa, ela vai
tagarelando e revelando tudo o que viu e aprendeu na oficina. <o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 9.9pt; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial","sans-serif";"> Por sua vez, pensando</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"> na experiência com as clientes aquele
dia, Glauber resolveu elaborar com sua equipe um mini curso</span><span style="color: red; font-family: "Arial","sans-serif";">,</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"> que aconteceria todo último sábado de
cada mês, voltado para mulheres, </span><span style="color: windowtext; font-family: "Arial","sans-serif";">para ensinar</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";">
noções básicas sobre peças e manutenção de veículos. <o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 9.9pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";">
E assim aconteceu... O sucesso foi tão grande, que, em todo último sábado
de cada mês, o estabelecimento ficava lotado de mulheres, que se interessaram em
acompanhar seus cônjuges, desmitificando a ideia novelesca de que oficina
mecânica é espaço meramente masculino. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 9.9pt; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i><span style="color: black; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 150%;">"</span></i><i><span style="background: white; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 150%;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: #222222; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Mandei meu Cadillac pro
mecânico outro dia/</span><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: #222222; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;"> Pois há muito tempo um conserto ela pedia/</span><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: #222222; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;"> E como vou viver sem um carango pra correr/</span><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: #222222; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;"> Meu Cadillac bip bip/</span><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: #222222; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;"> Quero consertar meu Cadillac..."</span> </span></i><span style="background: white; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 150%;">Roberto Carlos, O Calhambeque</span><span style="background: white; color: #222222; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 150%;">.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<br /><br />
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-73699938596303820562018-12-17T05:43:00.000-08:002018-12-17T05:43:00.165-08:00Desabafo<div style="text-align: justify;">
A infância silenciosa e solitária de filha única infelizmente não lhe rendeu a escrita poética de Cecília. Tampouco permitiu o extremo oposto, a atitude aguerrida em favor da causa feminista como tão bem faz Martha Medeiros.</div>
<div style="text-align: justify;">
Segue ali, vivendo seus papéis de mulher, filha, esposa e mãe, passeando entre a lucidez e fortaleza de Clarice e a doçura que carregam as lembranças de outros tempos, como páginas preenchidas por Cora.</div>
<div style="text-align: justify;">
O som do violão é refrigério da alma em dias tensos e ajuda na reaproximação às coisas simples, embora jamais consiga viajar para dentro de si tão completamente como Quintana.</div>
<div style="text-align: justify;">
Romântica, partidária do amor, a exemplo de Vinícius e Drummond, não consegue concebê-lo sem uma parcela de pesar e sofrimento.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em tempos de tantos delírios e ilusões em massa, encontra no humor ácido e na crítica social de Rodrigues a identificação com alguém que sente o desajuste de viver em uma época de aparências e valores frágeis.</div>
<div style="text-align: justify;">
Segue esperançosa, disposta a lutar por melhores dias, pois, ao contrário do que pensam, são os contidos, e não os ousados, que pagam com a vida...A vida deixada para trás...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>“Baby, baby, não adianta chamar, quando alguém está perdido procurando se encontrar. Baby, baby, não vale a pena esperar, oh não, tire isso da cabeça, ponha o resto no lugar...” Rita Lee.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-56053187539963881202018-12-14T12:50:00.000-08:002018-12-14T12:50:43.484-08:00Árvores do Coração <div style="text-align: justify;">
O Natal estava próximo. A enfermeira entrava no hospital para mais um dia de trabalho. Seguindo vagarosamente de carro até a sua unidade, foi observando pela janela o bosque de eucaliptos centenário localizado na entrada da instituição e todas as árvores que ladeavam as alamedas dos setores de internação. Observando toda aquela beleza natural, teve uma ideia...</div>
<div style="text-align: justify;">
Procurou os enfeites natalinos guardados desde o Natal passado para enfeitar sua sala, saiu, escolheu uma árvore de verdade, e a enfeitou. Em pouco tempo, a iniciativa chamou a atenção de funcionários, pacientes e familiares. A atitude dela disparou um movimento dentro da instituição. Todos passaram a apadrinhar e enfeitar uma árvore.</div>
<div style="text-align: justify;">
A Emergência decidiu pedir aos colaboradores e acompanhantes que trouxessem de casa enfeites para sua árvore. Cada bola, estrela e sino recebido era fixado em um cartão com uma dedicatória ao hospital. Naqueles pedacinhos de papel, cada um depositava sua mensagem de carinho, gratidão e amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
Psicologia e Terapia Ocupacional trouxeram materiais e solicitaram aos pacientes que customizassem enfeites natalinos para criar uma árvore exclusiva. Para concluir o trabalho, com as tintas que sobraram, eles carimbaram no tronco da árvore as palmas de suas mãos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os rapazes da Manutenção, Segurança e TI não quiseram deixar de participar, e honrando a praticidade masculina, optaram por uma árvore com bolas gigantes de plástico coloridas e muito festão dourado. E ainda assim, conseguiram um lindo resultado.</div>
<div style="text-align: justify;">
A Pediatria não teve dúvidas… Pendurou várias cartinhas para o Papai Noel escritas pelas crianças internas. E colocou ao pé da árvore um baú para quem quisesse adotar um pedido e colocar o presente desejado.</div>
<div style="text-align: justify;">
No entanto, foram as equipes do Centro Cirúrgico e do Transplante que criaram a árvore mais especial. Cada paciente atendido nos ambulatórios em consulta de acompanhamento recebia um coração de cartolina. Eles eram convidados a colarem de um lado do enfeite uma foto antes do transplante, e no verso, outra após receber o novo coração. E a árvore de lá carregou todos esses registros de superação e vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Com a proximidade do dia 25, as equipes começavam a marcar suas confraternizações nos grupos. A enfermeira sugeriu que esse ano não houvesse amigo secreto e que a cota do presente fosse revertida em doações para a Associação dos Transplantados que estava em dificuldade financeira. A ideia também foi acolhida com sucesso e ela conseguiu uma boa contribuição para ajudar a custear a casa de apoio.</div>
<div style="text-align: justify;">
O setor de Oncologia, recém-inaugurado, também resolveu reverter as cotas de presente em doação. Com o dinheiro arrecadado, ofereceu um café da manhã de Natal e uma oficina de turbantes para mulheres em quimioterapia.</div>
<div style="text-align: justify;">
E, foi assim, com árvores de verdade, que todos viveram um verdadeiro Natal...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"<i>Há um vilarejo ali, onde areja um vento bom, na varanda, quem descansa, vê o horizonte deitar no chão. Pra acalmar o coração, lá o mundo tem razão..." </i>Marisa Monte. </div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-70089018984919075022018-06-15T13:54:00.000-07:002018-06-15T13:54:16.022-07:00Do pingado ao macchiato<br />
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Foi a enfermeira escolhida para participar de uma oficina de
capacitação sobre tabagismo como preparação para instituir um
grupo de Cessação do Tabagismo na unidade de saúde onde
trabalhava. Estava contrariada a princípio, pois não gostaria de
abraçar essa ideia, mas percorrendo as estações de aprendizagem,
passou a gostar do assunto...</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> As facilitadoras orientaram que, na condução dos grupos nas
unidades, fosse solicitado aos participantes que escolhessem um dia
para parar de fumar, e que eles mastigassem cascas de limão, cravo e
gengibre quando sentissem vontade de pegar um cigarro. E a orientação
principal aos enfermeiros, que seriam coordenadores dos grupos, era:
“ tentar quebrar o elo que liga ao hábito de fumar”!
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Neste ponto, uma instrutora afirmou que o hábito de tomar café
e fumar era bastante presente entre os tabagistas, e sugeriu
incentivar a troca do café por leite ou chá, até que os
participantes dos grupos deixassem de tomar café em definitivo, e,
com isso, também abandonassem o cigarro.
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
Incomodada com essas afirmações, pensando alto, a enfermeira
interrompeu a facilitadora, alegando que largar o café e o cigarro
poderia representar para esses grupos de fumantes duas perdas ao
invés de uma, além de considerar desleal propor algo que ela mesma
não conseguiria fazer, pois também amava tomar café. Sugeriu,
então, ressignificar a experiência dos fumantes com o café,
dissociando a bebida do hábito de fumar.
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> A discordância gerou mal-estar, e a enfermeira foi
interrompida com a seguinte sentença: “- Você pode seguir o
manual ou fazer diferente. Fique à vontade!”. Assim, optou por
permanecer calada até o final da oficina.
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Chegou em casa com a cabeça fervilhando de ideias para o grupo, e
dentre elas, decidiu que levaria para cada encontro, uma garrafa com
uma receita de café de sabor diferente, para que os tabagistas
preparassem em casa, experimentassem, e relatassem a experiência no
encontro posterior.
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Para o primeiro encontro, levou uma receita de café com limão
siciliano, adaptação grosseira e simples do café argeliano
mazagran. E como a aceitação foi boa, não parou mais de inventar
para os encontros seguintes…</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Em pouco tempo, as receitinhas de café “viralizaram” na
comunidade. No grupo, a enfermeira recebia sugestões de novos
ingredientes, e alguns pacientes levavam também receitas criadas por
eles. Movidos pela curiosidade para experimentar um novo tipo de
café, os participantes permaneciam assíduos ao grupo, e alguns
pacientes realmente tiveram êxito em deixar o cigarro. Outros,
infelizmente, não conseguiram vencer o vício. Mas isso já era
esperado…</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGkCSHMpZjIW0cJde9ttd9dPVZHfwJuskYmy8jL_-ammRUHjYbxoEGe-KJEh7qtsAvsYRAsfv9j7c4JGYPJ44RdhRs38ebNGWQjpVu47EdXyw3GbielyOzyrOAujH15q1j3HrzpNiaDk_-/s1600/IMG_20180529_152948025.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="968" data-original-width="1600" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGkCSHMpZjIW0cJde9ttd9dPVZHfwJuskYmy8jL_-ammRUHjYbxoEGe-KJEh7qtsAvsYRAsfv9j7c4JGYPJ44RdhRs38ebNGWQjpVu47EdXyw3GbielyOzyrOAujH15q1j3HrzpNiaDk_-/s320/IMG_20180529_152948025.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Encerrando o ciclo dos encontros do primeiro grupo, ela disse aos
participantes: “- Nunca esqueçam que as sementes de todas as
possibilidades estão dentro de nós. Assim, para tudo na vida, vocês
podem seguir o manual ou fazer diferente. Fiquem à vontade!” </span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>“<span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="color: #222222;"><span style="font-size: 12pt;">É
saber se sentir infinito, n</span></span></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="color: #222222;"><span style="font-size: 12pt;">um
universo tão vasto e bonito, é saber sonhar, e</span></span></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="color: #222222;"><span style="font-size: 12pt;">ntão,
fazer valer a pena cada verso d</span></span></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="color: #222222;"><span style="font-size: 12pt;">aquele
poema sobre acreditar… " Trem Bala, </span></span></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="color: #222222;"><span style="font-size: 12pt;">Ana
Vilela.</span></span></span></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-68450411571026667592018-06-09T18:36:00.000-07:002018-06-09T18:36:03.848-07:00Efeito Sanfona<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Passou na padaria no retorno do
trabalho disposta apenas a tomar uma sopa e encerrar o dia. Encontrou o
ambiente todo decorado com a temática junina e a oferta de comidas típicas em
grandes panelas de barro expostas para <i style="mso-bidi-font-style: normal;">self-service.
</i>Foi o bastante para relembrar os festejos de São João de sua infância...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lembrou-se dos ensaios para quadrilha
no pátio da escola, do constrangimento em dançar em par com um coleguinha pouco
conhecido, do barulho das bandeirinhas de papel sacudidas pelo vento, e, é
claro, das músicas de Luiz que tocavam repetidas vezes e marcavam todos os
passos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nesse período, a mãe seguia o exemplo
de várias mulheres do bairro e fazia deliciosas cocadas para venda nas
barraquinhas da Igreja, como forma de arrecadar fundos para uma reforma ou
campanha católica. E de todas as festas juninas da cidade, talvez pela habilidade
para cozinhar e boa ação daquelas senhoras, nenhuma tinha pratos típicos tão
saborosos quanto aos das quermesses. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Acabou rindo sozinha na mesa da padaria,
lembrando o seu esforço nas brincadeiras de pescaria, jogo de argolas, boca de
palhaço, derruba latas, e outras mais, só para ganhar o melhor dos presentes:
uma caixa de estalinhos! E seguir feliz fazendo barulho e assustando pessoas
distraídas nas filas das barraquinhas de comidas típicas...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Começou a tocar uma música ambiente e ela
recordou de uma festa junina na companhia do pai. Acostumada a festas animadas com
caixas de som, ficou fascinada ao ver e ouvir um trio com sanfona, zabumba e
triângulo. O pai começou a contar histórias das festas no interior, de um tal “correio
elegante”, onde os “cabras” mais atrevidos enviavam bilhetes para moças
comprometidas, e em como ele ajudava nisso, sendo culpado pela união de muito
casal que estava trocado, vivendo com a pessoa errada e nem percebia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como sua mãe rejeitou a dança nesse dia, o pai saiu dançando com ela, que ainda mal alcançava seu ombro. Lembrou que sentia
as trancinhas batendo no rosto cada vez que rodopiava, e que o calor do vestidão rodado de chita não incomodou em nada aquela alegria tão grande. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pararam somente para acompanhar o
bingo. Cada um com seu palitinho de dente, furando a cartela e torcendo pra
ganhar o cofrinho cheio de dinheiro que rodou a festa inteira. Não ganharam,
mas o pai disse que ela era campeã porque marcou mais números que ele, e ela saiu
feliz e vitoriosa por isso, na sua inocência infantil.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Deixou a padaria e no caminho para casa ainda surgiram
muitas outras lembranças... Pela primeira vez considerou bonito o pai despedir-se deste mundo em um Dia de Santo Antônio. Pareceu bastante justo que um amante do toque da sanfona e da simplicidade da vida sertaneja partisse em mês junino...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">"</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;">A fogueira tá queimando/ e</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;">m homenagem a São João/ </span><span style="font-family: Arial, sans-serif;">O forró já começou/ </span></i><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><i>Vamos gente, rapa-pé nesse salão..." </i>São João na Roça - Luiz Gonzaga</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-23131580111387242522018-01-19T12:46:00.000-08:002018-01-19T12:46:16.158-08:00Lembranças de Maria<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Acostumada a passar uma parte das férias na
casa da avó, Maria ganhou o gosto pela escuta de histórias e músicas antigas no
contato com os idosos da vizinhança,
moradores ancestrais daquela pequena rua, de sentido único e pouco movimento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Com o sonho de ter uma pianista entre as netas, D. Francisca matriculou Maria
em aulas de piano. Assim, logo cedo, a menina caminhava até o final do
quarteirão para a casa de Dona Eridan, uma professora experiente, de formação
musical tradicional em conservatório, que tentava inutilmente convencer Maria a
tocar no compasso correto. Ela, no entanto, sentia a alegria da música tão
forte em seu interior, que não encontrava correspondência entre a partitura diante
de seus olhos e um som tão arrastado. E seguia tocando de maneira acelerada, aborrecendo
aquela senhora, que sob hipótese alguma aceitava a releitura de uma criança
para um clássico de Mário Mascarenhas... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Terminada a aula, Maria atravessava a rua e entrava na mercearia de Seu
Osmar. De mãos espalmadas e rostinho grudado no vidro do longo balcão de
madeira, esforçava-se para ver todos os artigos expostos na prateleira. Com sua
curiosidade infantil, vasculhava todo o estabelecimento, deixando seu rastro.
Mergulhava as conchas dosadoras nos grandes sacos de mantimentos, colocava
objetos no prato da balança para ver o movimento do grande pêndulo, e
questionava Seu Osmar sobre cada item desconhecido para ela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
O velhinho, muito paciente, criava histórias para explicar o
funcionamento de uma lamparina, de um ferro de passar a brasa, de um filtro de
barro, etc. E apesar de sempre deixar algum prejuízo em sua passagem, Maria garantia
boas gargalhadas a Seu Osmar, recebendo como recompensa um punhado de balas sortidas
retiradas do grande dispensador giratório de vidro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Muito arteira, a menina cruzava o corredor que ligava a mercearia ao
armarinho de dona Isaura, e lá, cuidava em desorganizar as linhas e apetrechos
de costura da esposa de seu Osmar. Gostava de fingir que atendia às clientes,
medindo pedaços de tecidos na régua metro de madeira, ou embrulhando fitas e
botões nos saquinhos de papel <i>Kraft </i>usados
como embalagem. Dona Isaura, tão benevolente quanto o marido, admitia a
brincadeira, observando tudo enquanto laçava punhos de rede no dedão do pé. E
apesar da desordem toda, Maria nunca saía de lá sem retalhos de panos e enfeites
para roupas de bonecas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Do
outro lado da rua, escorados no portão, como de costume, estavam Seu Gregório e
Dona Neusa. E Maria corria para mais uma visitinha... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Em
sua oficina no quintal da casa, o ancião, descendente de alemães, consertava
toda sorte de aparelhos eletrônicos. E Maria bisbilhotava tudo! Caixas de
tamanhos variados, com peças de todos os tipos, rádios, vitrolas e televisões
de tubo. Equipamentos sofisticados que os donos nunca foram resgatar, funcionando
perfeitamente, guardados como item de colecionador por Seu Gregório. Muito
culto, poliglota, ele decidiu ensinar inglês para Maria, utilizando material
impresso e discos de vinil de um curso antigo de línguas para crianças. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
No meio da conversa com ares de aula, Dona Neusa chegava com uma bandeja
cheia de gostosuras. Fazia doces e salgados para vender, mas nunca prosperou
com o negócio, pois ao menor elogio aos seus quitutes, fazia uma porção
generosa deles gratuitamente para retribuir a delicadeza. Seu Gregório, por sua
vez, compreendia o passatempo da esposa e não se importava com os gastos pra
manter tal alegria. Para Maria, era outra aventura acompanhar Dona Neusa na
cozinha e folhear todos aqueles livros de receita com ilustrações tão lindas...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Quase na hora do almoço, a menina terminava seu ziguezague pela rua na
casa da avó novamente, e desatava a relatar tudo o que tinha visto e aprendido com
a vizinhança.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Foi crescendo e sentindo a partida de cada um desses personagens que
povoaram e deixaram boas lembranças em sua infância. Disse não para as aulas de
piano, e muitas outras vezes durante a vida para todos aqueles que não permitiam
que ela experimentasse novas versões...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><i>"Há um passado no meu presente, um sol bem quente lá no meu quintal,toda vez que a bruxa me assombra, o menino me dá a mão..." Bola de meia, bola de gude -14 Bis</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-45945838663992271222017-10-26T12:11:00.000-07:002017-10-26T12:11:33.163-07:00Um coração para Kelly<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"> Filha de pai militar, Marjorie recebeu
uma educação bastante rígida em casa. Educação esta que foi complementada por
freiras docentes na escola de orientação católica que frequentou desde tenra
idade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Seu comportamento reservado e o uso de
roupas antiquadas chamavam a atenção de seus parcos amigos de infância e
motivavam o falatório da vizinhança. Ela, no entanto, seguia sua vida
normalmente, recusando qualquer conselho ou interferência quanto a mudanças de
hábito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Aprendeu a conviver com a morte logo
ao nascer. Sobrevivente entre as cinco tentativas de gravidez da mãe, Marjorie
carregava consigo o luto pelos outros quatro irmãos que não vingaram, e
compensava a solidão de filha única registrando em várias agendas os pormenores
dos acontecimentos vividos ao longo dos anos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> A falta de quem deixou este mundo
antes de sua chegada sempre a incomodou, e talvez explicasse um pouco sua
maneira tristonha e reclusa de ser. Era estranho para Marjorie tentar decifrar
seu passado pela fala dos pais, que traziam informações desconexas sobre os
personagens que faltavam nas fotos e nas festas em família. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Muitos parentes, como os avós que
jamais conheceu, não despertavam um sentimento real de saudade, de maneira que
observar fotos antigas não era suficiente para gerar lágrimas. Decerto não
poderia haver vinculação afetiva quando não existiram olhares carinhosos ou
gargalhadas gostosas como lembrança.<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Ela prosseguia sua existência
premiada com pais cheios de saúde e longevidade, o que afastava um pouco o medo
que sentia de perdê-los e tornar-se ainda mais sozinha neste mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"> Foi somente durante a faculdade de
Psicologia que decidiu experimentar o amor... Eduardo, seu eleito, era um rapaz
introvertido, avesso a festas e bebedeiras. Cursava Biblioteconomia e
vislumbrou nos modos educados e discretos de Marjorie a companheira que
almejava para suas tardes de leitura em casa e passeios tranquilos pelo parque
da cidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Amante das letras, o rapaz não cabia
em si de satisfação ao perceber o gosto de Marjorie pelos livros, o que era
evidente por sua assiduidade à biblioteca e pelo tempo que dispensava por lá.
Estava completamente apaixonado pela moça de nome significativo e belo.
Investiu em conversas demoradas regadas a café espresso, e precisou de muita
persistência até conquistar em definitivo a confiança daquela garota de poucas
palavras, e logo em seguida, seu afeto para todo o sempre. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Decidiram casar alguns meses após o
início do namoro, pois para eles, não havia mais tempo a perder. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> As duas famílias receberam a notícia
do casório com uma mistura de felicidade e alívio. Os pais do noivo jamais
imaginaram que ele tomaria tal decisão tão inesperadamente, pois já estava em
torno dos quarenta anos, e jamais sinalizou qualquer intenção no sentido de
sair de casa e estruturar sua própria família. Os pais de Marjorie, por outro
lado, ansiosos por livrar a filha do caritó, trataram de apressar a cerimônia,
que aconteceu de forma bem modesta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Marjorie revelou-se uma esposa
exemplar. Após desvendar a natureza do amor carnal no leito de núpcias,
dedicou-se ao marido de maneira intensa e comovente. Atendia com prontidão a
todos os caprichos dele, sem dar margem para a mínima queixa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Na biblioteca municipal, Eduardo era o
camarada conhecido por estar sempre de sorriso no rosto, exibindo uma
felicidade invejável entre os colegas, considerando seu casamento uma decisão
tão certeira quanto a jogada decisiva do xadrez, seu jogo favorito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> No segundo ano de união, Marjorie
engravidou da pequena Kelly e o casal descobriu que teria uma filha com cardiopatia
congênita. A tristeza voltou a atormentar aquela menina que nunca soube lidar
bem com a morte e o morrer. E entre tantas idas e vindas ao hospital no
enfrentamento da doença, como mãe, ela precisou ressignificar sua ideia de
finitude, para sair do estado de torpor que assumia a cada sinal de cansaço
daquele imperfeito coração. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Contrariando a gravidade de seu quadro
clínico, Kelly alcançou os quatro anos de idade, e foi nesse momento, esgotadas
as possibilidades terapêuticas convencionais, que seu nome foi inserido na
lista de pacientes para transplante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> A partir daí, mãe e filha praticamente
fizeram morada no hospital. O pai exausto, trabalhava o dia todo e visitava a
menina durante a noite, sem descanso. Ambos temiam que Kelly fosse embora a
qualquer momento de distração deles, e seguiam vigilantes. Sem a chegada do novo
coração, a contagem do tempo passou a ser em sentido inverso, pois cada dia
parecia representar menos uma alvorada para a menina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Foi então que, em um dia chuvoso, durante
o feriado de carnaval, a cidade onde moravam amanheceu estarrecida com a notícia
de um acidente automobilístico envolvendo a família de um influente político
local. Milagrosamente, dada a condição na qual o veículo foi encontrado a beira
da estrada, quase todos os ocupantes saíram ilesos. Pai, mãe e babá sofreram
escoriações leves, a filha adolescente fraturou uma perna, e apenas o caçula de
cinco anos foi socorrido em estado grave. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Por envolver figura pública, o episódio
gerou muita repercussão. As aparições freqüentes do caso nos noticiários
asseguravam a audiência e chegaram a motivar inclusive campanhas de apoio a
criança enferma nas redes sociais. No entanto, passado quase um mês do
acidente, sem maiores novidades, a mídia desinteressou-se e silenciou o caso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> A criança evoluiu mal. E após o segundo
exame neurológico confirmando a morte encefálica, a família, embora enlutada,
disse sim para a doação de órgãos. E o novo coração de Kelly nunca esteve tão
perto dela...<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Tudo preparado para o transplante mais
aguardado por todas as mães acompanhantes
da unidade pediátrica, e Marjorie, mesmo envolta pela alegria daquela
torcida toda, estava apavorada. Acompanhou e registrou a chegada do coração até
o centro cirúrgico, e seguiu sua penitência de mãe durante toda a cirurgia,
imóvel diante daquela porta imensa, tentando afastar maus pensamentos repetindo
ave-Marias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Horas depois recebeu a notícia do
sucesso do procedimento. Caiu de joelhos ao chão e chorou copiosamente toda a
aflição guardada por anos. Durante os dias de recuperação até o retorno
definitivo para casa, aprendeu a ser a nova mãe que a filha exigia e tudo
transcorreu com tranquilidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Cumprindo a promessa feita em momento
de desespero, deixou de pagar o dízimo à igreja e revertia a mesma quantia em
dinheiro em doações mensais para as mães internadas no hospital. Kelly
tornou-se a nova carinha do transplante, representando campanhas de doação de
órgãos até os onze anos de idade, quando não resistiu a espera de um novo
procedimento cirúrgico...<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Marjorie, marcada para sempre pela história
da filha, tornou-se novamente uma mulher reclusa e infeliz. O marido
protestava, insistia que tentassem ter outro filho, mas ela não aceitava.
Tornou-se péssima companheira, desleixada com o cuidado da casa e desatenciosa
com Eduardo. Ele, inconformado, pediu o divórcio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Separada, sozinha no mundo após a
morte dos pais, Marjorie criou um <i>blog</i>,
um espaço virtual para troca de experiências com outras famílias de crianças
transplantadas. Tomou gosto pela escrita, reuniu suas principais postagens e
publicou um livro intitulado "Um coração para Kelly".<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Eduardo casou-se novamente, teve dois
filhos e mudou de Estado após aprovação em concurso público. Nunca mais teve
notícias de Marjorie, até se deparar com seu nome organizando livros em uma
prateleira de <i>best-sellers</i> da
biblioteca onde trabalhava. Tomou a publicação nas mãos e nunca mais separou-se
dela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> Semanas depois, sozinho no aeroporto,
deixando tudo para trás, terminou a leitura que registrava os anos mais
conturbados e intensos de sua vida a tempo de atender a última chamada para
embarque no avião que retornava a sua terra natal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family: Arial;"> <i> " Who can say where the road goes? Where the days flows? Only time...And who can say if your love grows as your heart chose? Only time..." </i></span></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<i style="font-family: Arial, sans-serif;"><b>Enya, Only Time</b></i></div>
<div class="normal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-88840492191791031492017-06-17T19:28:00.004-07:002017-06-17T19:28:25.947-07:00SOS<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Após receber as chaves do quarto na recepção,
logo na entrada principal, Alice conseguiu visualizar completamente aquela que
seria sua nova morada. Avistou um pátio amplo, com imensa área verde e florida,
ornamentado ao centro com uma imagem magnífica da santa padroeira da
instituição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Olhou para as longas alamedas, com colunas
largas, típicas de antigas construções, e enquanto caminhava foi analisando os quadros
e placas comemorativas dispostos nas paredes, como estações de uma via sacra que
terminou diante da porta do quarto trinta e três. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> No entanto, ao invés de entrar, decidiu
atender ao badalar do sino que anunciava o almoço e dirigiu-se ao refeitório.
Acreditava que seria uma bela oportunidade para apresentar-se e fazer amizades.
Mas a ilusão logo se desfez...Constatou, observando pelas janelas entreabertas,
que a maioria das hóspedes comia em suas acomodações, com o auxílio de
funcionárias da casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Foi
então que percebeu que era exceção ali, pois a despeito do déficit visual
causado pela catarata que teimou em não corrigir, estava lúcida e saudável nas proximidades
de seus oitenta anos de vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Após o almoço, foi até a capela, e
contemplando o Santíssimo, pediu a Deus, como de costume, guarda e proteção aos
filhos e netos. Guardava no coração a certeza de que em quinze dias, no seu natalício,
os filhos reconsiderariam a decisão de deixá-la aos cuidados de um abrigo e
voltariam saudosos para resgatá-la. E assim, mais fortalecida, voltou ao
quarto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Dedicou toda a tarde para a organização dos
objetos e lembranças diversas que couberam na mala. Ao anoitecer, passou a
chave na porta e trancou-se ali, por longo tempo, solitária, repassando a vida
limpo...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Mesmo
quando tudo pede um pouco mais de calma / Até quando o corpo pede<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">um
pouco mais de alma/ A vida não para...”</span></i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Paciência,
Lenine.<o:p></o:p></span></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-26573975304603843722017-06-17T19:21:00.000-07:002017-06-17T19:21:24.265-07:00Praia Raiz x Praia Nutella <div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Parte
I<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Era
uma vez, em um reino muito distante, uma praia...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Lá, as pessoas estendiam toalhas na areia e
conversavam alegres e despreocupadamente. Crianças catavam conchinhas, erguiam
castelos imaginários, jogavam bola ou se ocupavam em “enterrar vivo” aquele tio
maluco que toda família que se preza tem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Famílias inteiras reunidas com total tranquilidade
ao longo da orla marítima. Crianças de colo conhecendo o mar pela primeira vez,
idosos matando a saudade de outros tempos, e turistas encantados com o
espetáculo natural apresentado por tão linda cidade litorânea. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Enquanto isso, alguns ambulantes ofereciam
bronzeadores criados com fórmulas caseiras super eficazes, e outros tantos, carregavam
caixas de isopor com picolés deliciosos, de procedência completamente
desconhecida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> A água do mar não era poluída, o que
tornava o banho de mar a principal atração. Quando a fome batia, sempre era
possível recorrer a uma frutinha ou a um suco trazido de casa, que adiavam um
pouco mais o fim do passeio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> E quando ficava realmente muito tarde, todo
mundo saía pra completar a manhã do domingo de sol em uma churrascaria próxima.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Chegando em casa, era hora de um bom banho,
pra fazer o cabelo retornar ao seu estado natural, e deixar a água do chuveiro
escorrer pelo ralo aquele monte de areia que permaneceu grudado entre os dedos
dos pés.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Depois disso, o corpo quente e os olhos vermelhos,
embora incômodos, chamavam rapidinho o sono, com o balançar da rede, sem hora
pra acordar...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Parte
II<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Era uma vez, em um reino muito distante,
uma praia...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Lá, as pessoas eram disputadas como
clientes por funcionários de inúmeras barracas, e podiam escolher acomodar suas
famílias nas áreas: coberta, palhoça ou de guarda-sol.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> As crianças tinham diversão garantida em
parques aquáticos super estruturados e atraentes, e os adultos, entretenimentos
variados, de massagens a <i>shows</i> de
música ao vivo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Não era possível manter conversas longas,
uma vez que os ambulantes abordavam as pessoas a cada cinco minutos com uma
infinidade de artigos, dos mais simples, como produtos regionais, até os mais
sofisticados, como equipamentos eletrônicos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Sempre correndo apressadamente, garçons
portavam cardápios que impressionavam pela variedade e alto custo dos produtos.
A praticidade era tamanha, que permitia permanecer na praia comendo e bebendo,
de maneira tão farta por todo o dia, quanto em um bom restaurante da cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> A água do mar, imprópria para o banho, talvez
justificasse o desfile de trajes e acessórios esportivos caros e elegantes que
as pessoas exibiam, como em um desfile de moda. Talvez estivessem certos de que
não sofreriam avaria alguma...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> E todos voltavam para casa, limpos e secos,
com a escova impecável. Sem gosto nem cheirinho de mar, mas com a câmera do
celular cheia de <i>selfies</i> incríveis
para postar em sequência nas redes sociais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Quando estiver no dia triste /Basta o
sorriso dela pra você ficar feliz/ Quando se sentir realizado /E dizer que
encontrou o bem que você sempre quis</span>...”<o:p></o:p></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A Rosa e o Beija-Flor, Matheus e Kauan<o:p></o:p></span></i></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-92011598017159789302017-05-10T19:41:00.000-07:002017-05-10T19:41:52.113-07:00BFF<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Paula
chegou para o trabalho cheia de expectativas. Recém-formada, temia ser lançada
na assistência direta aos pacientes e falhar. Temor maior pela inexperiência
que pela falta de conhecimento científico. Porém, o que nem imaginava era que
havia desafios muito maiores...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Estava substituindo Jeane, uma colega muito
querida por todos, e sentiu o desconforto e a rejeição daqueles que seriam a
sua própria equipe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Uma enfermeira veterana na unidade de
saúde vivenciava atônita a troca de profissionais. Mal acabava de despedir-se
de uma colega, que encobria as lágrimas com uns óculos escuros, quando decidiu
ir ao encontro da novata.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> No consultório, a recém-chegada estava
igualmente mal, chorando baixinho.Tentou dizer algo antes de acolher aquela
dor com um abraço que dispensou palavras, mas não conseguiu. Ainda assim, as
duas compreenderam-se imediatamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Os dias foram passando e por muitas vezes
a veterana enxergou na novata aquela iniciante que foi um dia. Paula era uma
menina com um coração cheio de vontade de ajudar a quem precisava e uma cabeça
recheada de ideias para isso. No entanto, por já ter visto o seu esforço ser em
vão inúmeras vezes, a veterana disse coisas muito duras para por abaixo aquele
entusiasmo todo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Era uma tentativa,
ainda que inconsciente, de proteger a outra, a esta altura já boa amiga, da
decepção de ver seus ideais destruídos pelo peso dos desmandos de uma gestão
que desvalorizava a singularidade e o potencial transformador humano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Porém, independente das limitações que
encontrou pelo caminho, Paula agiu e transformou o atendimento em Saúde da
Mulher na unidade. E todo mundo pôde assistir de perto o desenvolvimento de uma
enfermeira desde o comecinho...</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3neXFoGWkwr8agX5lz5kU1mbSqJQLfyNuezerTzExSklOP2ANGgzufldrA5f4_5LArzu1WlqMX8BSjCFHcR1slAJJObY1qwJP3xlc_DroihSK6aU_Rb3l51N91AKLm2Rt7jhP2ZYcFunj/s1600/IMG-20170429-WA0118.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3neXFoGWkwr8agX5lz5kU1mbSqJQLfyNuezerTzExSklOP2ANGgzufldrA5f4_5LArzu1WlqMX8BSjCFHcR1slAJJObY1qwJP3xlc_DroihSK6aU_Rb3l51N91AKLm2Rt7jhP2ZYcFunj/s400/IMG-20170429-WA0118.jpg" width="223" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Como esperado, a competência dela logo rendeu
frutos. Foi aprovada em concurso público de outro município e precisou deixar o
posto de saúde. Infelizmente, a vida não repõe bons amigos na mesma proporção
em que os leva embora, o que torna essas despedidas bastante sofridas. E as companheiras
de tantos sorrisos acabaram chorando...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Paula levou a certeza de que precisava viver
tudo aquilo, concluindo que investir em um cuidar com dedicação e afeto sempre
vale a pena, embora nem sempre saia conforme imaginado. E a veterana permaneceu
no mesmo lugar, a espera de novas enfermeiras, Jeanes, Paulas, Bias, e quem mais
chegar, grata pelas lições desses encontros, que renovam dentro dela o amor
pela sua arte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Sempre que eu preciso me desconectar/
Todos os caminhos levam ao mesmo lugar/ É o meu esconderijo, o meu altar/
Quando todo mundo quer me crucificar.../ Eu só quero estar com você!”<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">De
fé, Humberto Gessinger <o:p></o:p></span></div>
notas em réhttp://www.blogger.com/profile/07116298443238475526noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2749314608057254708.post-15304492110219924592017-04-27T13:51:00.005-07:002017-04-27T13:51:46.734-07:00Casamento sem cerimônia <div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"> Eles
escolheram o mês dos namorados para celebrar o casamento, como se
quisessem eternizar essa condição.</span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"> A
casa que ocuparam, novinha em folha, mas incompleta quanto ao
mobiliário, correspondia bem com a nova fase daquele amor que ainda
tinha tanto a alcançar.</span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"> Foi
um início difícil, muito mais pela despedida de pessoas queridas
que pelos ajustes diários e tão necessários na vida a dois. Dois
meses após o matrimônio, ela perdeu a avó, e dias antes das suas
bodas de papel, perdeu o pai, marcando aquela data e o seu coração
para sempre. E o tempo seguiu implacável...</span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"> Eles
viajaram, mudaram de emprego e investiram em formação profissional.
Até que no segundo ano de casados, constataram que a casa estava
ampla demais, e decidiram acrescentar ao currículo o grau de pais. </span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"> Deus
enviou generosamente uma criança linda e saudável, que apertou
ainda mais aquele laço de amor. E eles decolaram juntos na viagem de
criação da filha com o entusiasmo de quem se depara com as
novidades de um lugar totalmente maravilhoso e inexplorado.</span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"> No
meio do percurso, logo a turbulência começou a aparecer...O arsenal
de apetrechos e sentimentos que acompanham a chegada de um bebê
desorganizou a casa, ocupou o carro e roubou o vigor do
relacionamento.</span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"> Os
dois brigaram muito, mas teimaram e não deram a permissão requerida
pelos desentendimentos para o fim da união. Amando, aprenderam
empiricamente que a euforia infantil dos primeiros passos poderia
ceder lugar a um caminhar menos impulsivo e mais consciente e seguro.
Foi quando finalmente deixaram de engatinhar e aprenderam a andar!</span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"> Lá
pelas bodas de açúcar, a família voltou a aumentar. Outra menina,
bem pequenininha, chegou apressada, antes da hora, sorrindo do
desespero dos pais assustados pela surpresa da prematuridade. Veio de
modo solícito atender a urgência divina em completar aquela
família, e carinhosamente preencheu todos os espaços ainda vazios
naquele lar.</span></span></span></div>
<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"> Hoje,
marido e mulher estão empenhados no compromisso de manter um enlace
maleável e flexível, protegido da corrosão e ferrugem dos anos
passados, em consonância com as bodas de estanho e zinco que se
aproximam...</span></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"> <i>"Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz </i></span></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;"><i> Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz."</i></span></span></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt;">O meu amor, Chico Buarque</span></span></span></div>
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