Paula
chegou para o trabalho cheia de expectativas. Recém-formada, temia ser lançada
na assistência direta aos pacientes e falhar. Temor maior pela inexperiência
que pela falta de conhecimento científico. Porém, o que nem imaginava era que
havia desafios muito maiores...
Estava substituindo Jeane, uma colega muito
querida por todos, e sentiu o desconforto e a rejeição daqueles que seriam a
sua própria equipe.
Uma enfermeira veterana na unidade de
saúde vivenciava atônita a troca de profissionais. Mal acabava de despedir-se
de uma colega, que encobria as lágrimas com uns óculos escuros, quando decidiu
ir ao encontro da novata.
No consultório, a recém-chegada estava
igualmente mal, chorando baixinho.Tentou dizer algo antes de acolher aquela
dor com um abraço que dispensou palavras, mas não conseguiu. Ainda assim, as
duas compreenderam-se imediatamente.
Os dias foram passando e por muitas vezes
a veterana enxergou na novata aquela iniciante que foi um dia. Paula era uma
menina com um coração cheio de vontade de ajudar a quem precisava e uma cabeça
recheada de ideias para isso. No entanto, por já ter visto o seu esforço ser em
vão inúmeras vezes, a veterana disse coisas muito duras para por abaixo aquele
entusiasmo todo.
Era uma tentativa,
ainda que inconsciente, de proteger a outra, a esta altura já boa amiga, da
decepção de ver seus ideais destruídos pelo peso dos desmandos de uma gestão
que desvalorizava a singularidade e o potencial transformador humano.
Porém, independente das limitações que
encontrou pelo caminho, Paula agiu e transformou o atendimento em Saúde da
Mulher na unidade. E todo mundo pôde assistir de perto o desenvolvimento de uma
enfermeira desde o comecinho...
Como esperado, a competência dela logo rendeu
frutos. Foi aprovada em concurso público de outro município e precisou deixar o
posto de saúde. Infelizmente, a vida não repõe bons amigos na mesma proporção
em que os leva embora, o que torna essas despedidas bastante sofridas. E as companheiras
de tantos sorrisos acabaram chorando...
Paula levou a certeza de que precisava viver
tudo aquilo, concluindo que investir em um cuidar com dedicação e afeto sempre
vale a pena, embora nem sempre saia conforme imaginado. E a veterana permaneceu
no mesmo lugar, a espera de novas enfermeiras, Jeanes, Paulas, Bias, e quem mais
chegar, grata pelas lições desses encontros, que renovam dentro dela o amor
pela sua arte.
“Sempre que eu preciso me desconectar/
Todos os caminhos levam ao mesmo lugar/ É o meu esconderijo, o meu altar/
Quando todo mundo quer me crucificar.../ Eu só quero estar com você!”
De
fé, Humberto Gessinger