Foi a enfermeira escolhida para participar de uma oficina de
capacitação sobre tabagismo como preparação para instituir um
grupo de Cessação do Tabagismo na unidade de saúde onde
trabalhava. Estava contrariada a princípio, pois não gostaria de
abraçar essa ideia, mas percorrendo as estações de aprendizagem,
passou a gostar do assunto...
As facilitadoras orientaram que, na condução dos grupos nas
unidades, fosse solicitado aos participantes que escolhessem um dia
para parar de fumar, e que eles mastigassem cascas de limão, cravo e
gengibre quando sentissem vontade de pegar um cigarro. E a orientação
principal aos enfermeiros, que seriam coordenadores dos grupos, era:
“ tentar quebrar o elo que liga ao hábito de fumar”!
Neste ponto, uma instrutora afirmou que o hábito de tomar café
e fumar era bastante presente entre os tabagistas, e sugeriu
incentivar a troca do café por leite ou chá, até que os
participantes dos grupos deixassem de tomar café em definitivo, e,
com isso, também abandonassem o cigarro.
Incomodada com essas afirmações, pensando alto, a enfermeira
interrompeu a facilitadora, alegando que largar o café e o cigarro
poderia representar para esses grupos de fumantes duas perdas ao
invés de uma, além de considerar desleal propor algo que ela mesma
não conseguiria fazer, pois também amava tomar café. Sugeriu,
então, ressignificar a experiência dos fumantes com o café,
dissociando a bebida do hábito de fumar.
A discordância gerou mal-estar, e a enfermeira foi
interrompida com a seguinte sentença: “- Você pode seguir o
manual ou fazer diferente. Fique à vontade!”. Assim, optou por
permanecer calada até o final da oficina.
Chegou em casa com a cabeça fervilhando de ideias para o grupo, e
dentre elas, decidiu que levaria para cada encontro, uma garrafa com
uma receita de café de sabor diferente, para que os tabagistas
preparassem em casa, experimentassem, e relatassem a experiência no
encontro posterior.
Para o primeiro encontro, levou uma receita de café com limão
siciliano, adaptação grosseira e simples do café argeliano
mazagran. E como a aceitação foi boa, não parou mais de inventar
para os encontros seguintes…
Em pouco tempo, as receitinhas de café “viralizaram” na
comunidade. No grupo, a enfermeira recebia sugestões de novos
ingredientes, e alguns pacientes levavam também receitas criadas por
eles. Movidos pela curiosidade para experimentar um novo tipo de
café, os participantes permaneciam assíduos ao grupo, e alguns
pacientes realmente tiveram êxito em deixar o cigarro. Outros,
infelizmente, não conseguiram vencer o vício. Mas isso já era
esperado…
Encerrando o ciclo dos encontros do primeiro grupo, ela disse aos
participantes: “- Nunca esqueçam que as sementes de todas as
possibilidades estão dentro de nós. Assim, para tudo na vida, vocês
podem seguir o manual ou fazer diferente. Fiquem à vontade!”
“É
saber se sentir infinito, num
universo tão vasto e bonito, é saber sonhar, então,
fazer valer a pena cada verso daquele
poema sobre acreditar… " Trem Bala, Ana
Vilela.