domingo, 27 de novembro de 2016

Todo mundo corre

      Decidida a inserir uma nova atividade física em sua rotina, ela programou o despertador para tocar meia hora antes do habitual, e vencendo o sono, começou a realizar caminhadas matinais com o marido no entorno de um lago próximo à sua residência.
    Para sua surpresa, nas primeiras horas do dia o local já está ocupado. O comércio completamente fechado do outro lado da avenida contrasta com a intensa movimentação de transeuntes na praça do lago. Há grupos de idosos espalhados por toda parte. Alguns utilizam os aparelhos de ginástica, enquanto outros jogam conversa fora nos bancos espalhados pelo calçadão. Os que seguem andando, cumprimentam os novatos no exercício diário de forma muito polida, nos encontros a cada volta, como se prestassem boas vindas a eles.
     Durante o percurso, ela observa os detalhes do local. Obviamente, a beleza natural do lago é o primeiro atrativo a seus olhos. Vê patos, marrecos e garças deslizando pela água de maneira sincronizada. Mais à frente, um homem atrai uma legião de pombos, arremessando grãos de milho ao chão, às margens do lago.
     Sentindo o toque da brisa fria do dia que ainda não amanheceu por completo, ela segue a caminhada e atenta para outras minúcias da praça. Conclui que a conservação do local deixa a desejar. O parquinho infantil, por exemplo, no qual um dos brinquedos serve de abrigo noturno a um mendigo, carece de nova pintura e restauração. Estranhamente, as lixeiras de concreto estão cuidadas, e exibem frases de otimismo, impressas através de moldes vazados de pintura, o que oferece um atrativo a mais ao caminho.
     Antes de alcançar o grande relógio ao lado da banca de revistas e completar mais uma volta, ela encontra outra particularidade importante: uma pequena gruta que acomoda duas imagens de Nossa Senhora de Fátima. Posicionada à direita da gruta, uma placa exibe o cronograma de atividades católicas que ocorrem ali. Esse achado a deixa bastante feliz e ela prossegue alegremente.
    O sol começa a despontar e corar suas bochechas. Agora, ela disputa lugar entre as equipes de assessoria esportiva que montam acampamento na praça. Todos estão em perfeita harmonia, como se houvessem estabelecido previamente a quem caberia cada espaço no calçadão. Ao ver a facilidade com que os integrantes desses grupos correm, ela lamenta sua falta de fôlego para ir além, assim como não exibir a mesma forma física deles. E segue almejando conseguir esses resultados no futuro...
    Infelizmente, as demais obrigações do dia não a permitem permanecer ali. Retorna para casa pensando em como aquela atividade ao ar livre é bem mais salutar para sua mente e coração que aqueles exercícios pesados de repetição que desenvolve à noite, confinada na academia. E espera ter a perseverança necessária para continuar...

“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei quem sou...”

Metamorfose Ambulante, Raul Seixas.

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