Ela
encontrou a cidade bastante movimentada devido à proximidade do
Carnaval. Caminhando pela orla marítima sentiu o quanto o evento era
importante como oportunidade de emprego (ainda que temporário) e
renda para os habitantes mais humildes do lugar. E percebeu que eles
eram muitos…
Um
batalhão erguia as
estruturas dos camarotes a todo vapor. Outras pessoas já trabalhavam
no período de pré-carnaval vendendo bebidas ou recolhendo latinhas para reciclagem
após os eventos. Cada um desempenhando o papel que
lhe cabia no espetáculo.
Ansiosa
para conhecer os principais pontos turísticos de Salvador, ela saiu
com a família atenta a cada ínfimo detalhe do percurso pelo centro
histórico da capital baiana. Nas igrejas de arquitetura rebuscada
sentiu de perto o sincretismo religioso
na fala do guia, que apresentava as imagens dos santos católicos e
seus orixás correspondentes.
Na
visita ao mercado, o sagrado e o profano também conversavam
harmonicamente nas prateleiras, representados pelos mais diversos
artigos em exposição. Atraída pelo som de uma música, ela
dirigiu-se para a área externa e avistou uma roda de capoeira. A
agilidade e precisão dos movimentos a impressionou tanto quanto o
chapéu deixado ao chão para receber uns trocados da plateia.
Lamentou que uma apresentação cultural tão rica não recebesse o
devido valor, e prosseguiu.
Na
praça, quase ao meio dia, encontrou baianas que se ofereciam para
fotos em vestidos volumosos sob um sol escaldante. Olhou fascinada
para a brancura dos trajes, a riqueza das rendas e o colorido dos
adornos, e também julgou que estavam fora de lugar, sem a atenção
mais que merecida.
Após
o almoço, a visitação aos museus preencheu a tarde. Ficou feliz em
ver as filhas curiosas diante dos objetos e atentas às explicações
dos guias. Gostaria muito que sua cidade natal oferecesse mais
espaços como aqueles e se preocupasse em restaurar seu patrimônio
como parecia acontecer por lá.
A
desinibição e espontaneidade das pessoas também saltava aos olhos.
A atmosfera de alegria e liberdade composta pelo
batuque dos tambores e os corpos pintados dos músicos do Olodum
enfeitiçava e convidava a seguir dançando sem parar…
O
sotaque carregado que ganhava charme na voz das mulatas, parecia
debochado e até grosseiro na boca dos homens. Casais homoafetivos
transitavam despreocupadamente sem qualquer constrangimento ou medo
de reprovação alheia. Foi
bom para ela perceber-se em minoria. Seu tom de pele, sua religião e
suas escolhas de repente ficaram pequenas, perdidas naquela
diversidade cultural e pluralidade de opiniões.
Viajar
sempre a revirava pelo avesso. O contato com outras realidades mexia
com os pensamentos e sentimentos dela de uma forma avassaladora.
Abastecia a cabeça de novas ideias, refletia e transformava seus
posicionamentos diante da vida.
Na
morosidade do engarrafamento rumo ao aeroporto, ia despedindo-se de
Salvador cheia de questionamentos… Afinal de contas, quem imaginaria encontrar nas placas de sinalização da cidade a indicação de
um terreiro de Umbanda? E por que não se todos os outros locais de
culto estão indicados? Quem escolheria comer um bolinho de feijão
frito e apimentado na praia? E que problema há nisso?
De
repente, o carro para no sinal e ela lê no muro de uma igreja: “Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. E, mais abaixo, uma pichação
que afirmava: “Eu acredito nos Beatles”. Uma síntese mais que
perfeita daquele lugar tão repleto de contrastes…
“Na
Bahia,
ia, iá, tudo é motivo de alegria, iá, iá, É carnaval, é festa
todo dia, iá, iá Espere um pouco tô chegando já...”
Festa
na Bahia, Chiclete com Banana
Lindo, lindo😚😚😚
ResponderExcluirShow
ResponderExcluirAmiga, mais uma vez, se garantiu!!!
ResponderExcluirMuito bom.☺
ResponderExcluirBelo texto. Muito bom.
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