O teatro estava
lotado. Famílias inteiras ansiosas pelo início do espetáculo de
dança infantil de uma renomada escola da cidade. Ela estava
acompanhada do marido, da filha menor de três anos e da avó coruja,
ocupando uma poltrona na terceira fileira, à altura central do
palco. Havia comprado os ingressos com bastante antecedência para
garantir esse bom lugar. Era a apresentação de Aladdin.
Enquanto algumas
pessoas retardatárias ainda se acomodavam, seu esposo conferia o
funcionamento da câmera, preocupado em assegurar doces lembranças
em foto e vídeo para a filha primogênita, que estaria em cena
naquela noite.
Em poucos instantes o
palco estava tomado por alegres odaliscas, que sacudiam seus véus
coloridos e faziam tilintar as medalhinhas que lindamente ornavam
suas fantasias.
As turminhas do
Infantil exibiram as danças mais comoventes. Aquelas menininhas com
suas saias de tule cheias de brilho pareciam pequeninos pirilampos se
esbarrando pelo ar, buscando a todo custo encontrar o seu lugar
correto no palco.
Singelas imperfeições
renderam risadas gostosas ao público, como a criança atrasadinha,
que correu apressada, na ponta dos pés, para alcançar as amigas que
já se escondiam nos bastidores do teatro.
Como se não bastasse,
em meio à cena do mercado, uma das graciosas frutinhas, que dançava
com o braço machucado, suspenso em uma tipóia, desequilibra-se e
cai. Imediatamente, as coleguinhas que a rodeavam esqueceram a
coreografia e correram para ajudar, arrancando um belo suspiro
coletivo da platéia.
E assim terminou o
primeiro ato. No intervalo, a mãe estava surpresa com o bom
comportamento da filha caçula, que além do fascínio pelo
espetáculo, mantinha-se acordada após seu horário habitual de sono
na intenção de ver a irmã mais velha dançando.
As lâmpadas mágicas
abriram o segundo ato. Olhando fixamente para a filha bailarina, ela
entrou naqueles momentos em que a consciência nos desperta para o
passar do tempo. Recordou os outros anos em que esteve ali,
observando sua menina, e encontrou sensíveis diferenças...
A filha facilmente
localizou a família, mas não era mais aquela que acenava e lançava
beijinhos pelo ar nessa hora. Algo da inocência de outras épocas já
havia ido embora, e ela se conteve, e apenas sorriu.
A menina seguiu todos os
passos ensaiados com precisão e segurança. Não lançou sequer um
olhar para as colegas ao lado, no intuito de conferir e acompanhar o
que faziam como era seu costume. Estava radiante e cumpriu sua dança
com maestria.
Ao final, a irmãzinha
aplaudiu demoradamente do colo da mãe, e o pai exibia com orgulho as
imagens exclusivas que conseguiu captar. Ele olhou para a esposa com
ternura e beijou sua mão delicadamente. E ela compreendeu sua
satisfação pelo êxito da pequena sem que qualquer palavra fosse
necessária.
O espetáculo prosseguiu
permeado pela magia dos contos de fada, com belas cenas
protagonizadas pelo casal Jasmine e Aladdin, representado pelos
alunos de teatro do ensino fundamental. E eles foram tão
convincentes juntos, que fizeram aquela mulher imergir e divagar pela
história...
Começou a pensar na
princesa que se rendeu aos encantos de um príncipe que compartilhava
seus ideais de liberdade e a convidou a sair pelo mundo descobrindo
novidades. Pensou também naquele príncipe, tão íntegro a ponto de
abdicar a todo um reino, e à riqueza maior que era o amor de sua
princesa, apenas para manter-se fiel aos seus valores e princípios.
E suspirou.
Saiu do teatro reflexiva
e feliz. Recebeu com um abraço bem apertado e parabenizou muito sua
estrela mirim, que por mais uma vez encheu seu coração de orgulho e
alegria.
"Um mundo ideal/ Um mundo que eu nunca vi/ E agora eu posso ver/ E lhe dizer que estou em num mundo novo com você/ E eu num mundo novo com você..."
Um mundo ideal, Aladdin.
Momentos especiais com pessoas importantes são a cereja do bolo em nossas vidas. Parabéns, a emoção que você transmite é autêntica e contagiante.
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